Tarso Firace livros publicados
sábado, 19 de maio de 2012
Velejando o MarAzul
Velejando o MarAzul
Velejar
É a metáfora da vida
Que passa
O tempo não é o palco
Onde nos apresentamos
Ao longo da vida
Mas é instancia imediata
Da qual seguem outras
Onde a vida em si se revela
Vida não é tempo
Apenas está nele
Numa ligação pra lá de curiosa
A vida sempre vem de outra vida
E assim remissivamente
Até o mergulho no mistério
O tempo que a vida conhece é
Não é marcado
Pela noção de dias
Mas pela duração
Pelas gerações de vida
Que se sucedem
A mente só conhece a própria vida
Sua noção é limitada
Ao seu limitado conhecimento
Mas mente e tempo
São inversos
Da mesma realidade
A mente é um focar na arvore
O tempo
É desfocar na floresta
A vida é muito antiga
Muito além
Do que podemos imaginar
Assim como o tempo
O espaço também
É uma estância da realidade
Não é o determinante dela
Não a contém
Apenas a revela
A realidade é muito mais
Do que cabe no espaço e tempo
Ocupa outros andares do que é
Nisso aponta
Para valores muito maiores
Do que os que estamos habituados
Valores estruturais
Que fizeram a vida ser hoje
Do jeito que ela é
A cada ser que nasce
É mais uma espichada
Que pelos pais faz a vida
Porém é a mesma vida
Que se desdobra
Em mais uma existência
Isso faz com que cada ser
Seja um desdobro da vida
Que invisivelmente aponta para ela
Cada ser é sustentado
Por uma imensa carga
De ser vivo
É uma energia
Que não vem da matéria
Mas de ser vivo
O ser vivo
A qualquer momento
Pode voltar para onde veio
Pode ser tragado
Para onde no inicio
Foi soprado
O ser é apenas
Uma instancia da vida
Que habita o presente
Sua compreensão das coisas
É limitada apenas
Ao tempo e espaço que conhece
Mas há uma passagem
Pela qual se pode
Acessar outros mundos
Uma passagem
Que pode nos levar
A infinitos tempos
Pode descerrar novos espaços
E nos trazer às essências
Amanheço
Nessa casa movil
Na represa dos ingleses
Cercado de filhos e seus amigos
Que prolongam o sono
Desta linda manha
É a primeira noite nessa casa
Desde que foi construído
Há três anos
Tudo é espaçoso
E faz sentir em casa
Em cada ambiente
Isola o ruído e o frio
Deixa passar apenas
O calor da manha
Estaciono meu lugar no mundo
Entre essas arvores
Para me fazer escritor
Para transformar silencio
Em palavras escritas
Que germinem mais silencio
Me fazer pai
Com forma de levar a mais uma etapa
A vida de família que chegou até aqui
Me faço do mundo
Para o mundo
Para fazer-se por compreender
Diário Mar azul
Tarde de quarta
O dia termina
Na beira da lagoa
Galhos silenciosos
Dançam ao sopro da bisa
Que traz a noite
Flutuando na água
Um pedaço de poesia
Balança docemente
Convida para uma ultima viagem
Mais um passeio
Como se coubesse
Aponta para os ótimos momentos
Que passamos juntos
Entre vela e vento
E assim faz flutuar
O pensamento e a idéia da vida
A sensação do ser
Somos feitos de mistério
Irrevelado a não ser
Em horas como essa
A vida está em ordem
Pode-se dizer pelo menos
Até onde se pode ver
Passageiro no tempo
Nada mais
Do que matéria emprestada
Alma laçada
Suspiro tomado de alguém
Acorrentado ao amor de meus pais
Como ao desamor
Flecha em vôo
Pingo
Caindo do céu
Sigo
O que aprendi
Como se fosse meu
Imito os passos
Caio nos mesmos percalços
Tropeços
Repito a fuga e o medo
So agora
Aprendo olhar nos olhos
Faço de mim espaço
Para desabrochar a obra
Que a vida espera de mim
Ubatuba
A poucos metros do mar
Em nossa casa
Em Ubatuba
Noite serena
Depois da chuva
Silêncio
Cheiros invadem a janela
Terra e mar
Doce e salgado
A noite é pequena
Para conter
Tantos mistérios
Há uma imensa acolhida
Em sentir-se em casa
No mar
Tocar o oceano
É tocar qualquer parte
Que ele toca
É tocar seu fundo
Sua fossa mais abissal
Como suas espumas
Trouxe minha mãe
Para as águas do mar
Vim delas
Deixei nelas o peso
De uma humanidade que pesava
Demasiado em meus ombros
Quando voltei a ser jovem
A ser quem sou
Ainda agora
Nas águas fui batizado
Destas nasci
E renasço agora
A poucos metros
Quase afundei
Em tempestades
A poucos metros
Morei no reino das chuvas
Na solidão do veleiro
A poucos metros
Minha primeira casa
Com a minha cara
Aqui encontrei o tempo perdido
A intenção certa
O equilíbrio
Desta janela vi o mastro
Do novo veleiro que construí
Antes de construirem na frente
Daqui vi o cometa
O Eletra da ponte aérea
E a eclipse
Daqui vi partir o amigo
Que se sentava na praia
E mergulhava na luz
Para cá corri
Quando partiu meu pai
Aqui esperei por ele
Daqui mudei de vida
Subi a serra
E fui para Minas
Daqui reuni forças
Para enfrentar as mudanças
Que moldam meu tempo
Aqui fiz amigos verdadeiros
Que me fizeram
Como sou
Aqui me encontrei comigo
E preciso de pouco
Quase nada
A noite é pequena
Para conter tudo
Que esta presente aqui
Acabo de chegar do mar
É quarta feira
Tudo é calmo fora da temporada
O marinheiro me levou
Até o antigo veleiro
Onde aprendi velejar
Ao chegar perto percebi
Que não era ele
Mas um outro igualzinho
Dentro e fora mostrava
Sinais do tempo
E da falta de trato
Passeamos por outros
Maiores e melhores
Mas não vi nenhum outro
Aquele velho amigo
Esta dentro de mim
Como a agua do batismo
Não preciso dele
Mas do que com ele
Toquei e fui tocado
A imensa vida
No mar e fora dele
Na terra e fora dela
Tão imensa
Que o pensamento
É só uma gota no oceano
Na praia ventanosa
Adentrei no mar
Vagarosamente
A água estava gelada
Mas convidava a imersão
Passo a passo
De mim era retirado o calor
E as preocupações
Com o efêmero
Quando voltei à praia
Vi o mundo diferente
Era limpo
Na limpeza de meus olhos
Vi um mundo reluzente
De suas próprias belezas
Então houve paz
E o canto do pássaro
Combinou com o ruído dos carros
Aqui desta rede
Me aconforto
No ventre da terra
Nascidos dos oceanos
Na beira dele
Nos reanimamos
Por quantos anos
Ou melhor décadas
Aqui me balanço
Me vejo no espelho da montanha
Tão verde e intocada
Percorrida apenas por olhares
O coqueiro do vizinho
Denuncia o vento noroeste
Que traz as chuvas vespertinas
O choro de crianças
Que se revezam com os anos
Na educação torpe dos pais
Tão pouco é preciso
O conteudo parece espocar
Para fora dos elementos
Poderia ficar horas aqui
Recollhendo-o com carinho
Enaltecendo-o
Enxugaria o gelo das geleiras
Saboreando o sal dos oceanos
Dissecaria a alma
E ainda assim
Haveria tanto
Que o tempo não alcançaria
Fico apenas no imediato
O que toco
E silencio em mim
Meu coração se estufa
Me fazendo perceber
O pulsar da imensa vida
Avaré
A bordo do Easy
É domingo
Motor silencioso
Vento de frente
O ar úmido da represa
De águas limpas
De Avaré
Aprôo 210 na magnética
Rumo ao canal principal
É quase um mar
O céu azul
Salpicado em stratus
Ainda branquinhos
Aqui estou a navegar
O bom veleiro Easy
Que me acompanha há duas décadas
Que muitas historias
Podemos contar
Um do outro
Do estaleiro ao mar
10 anos de Ubatuba
10 de água doce
Quantas temporadas lindas
Quantos revezes
Uma vida
Agora estamos em paz
Alma lavada
Cara lavada
Ambos estamos
Flutuando
No rio da vida
Por se domingo
Deveria ser proibido
Pensar em trabalho
Então acordo
Para tudo o que me cerca
Com olhos novos
Olha lá
Um hidro avião
Vindo para cá
Nos demos tchau
Com a mão
Como velhos amigos
Descubro
Que em minha vida
Preciso de tempo
Como uma semente
Precisa de chão
E de água
Preciso
Para desabrochar
A vida que há em mim
Com muita educação
Carinho com a historia
Da qual sou parte
Abrir as asas
Fazer a ascese
Da qual preciso
Para não ficar ilhado
Na pequena tempera
Nem homem nem santo
Apenas acometido
De uma santez passageira
Ligada somente a resultados
Passou de volta o hidro
Ao cruzar alto
Balançou as asas
Lá vai
Outro piloto leve
Que aproveita esta calma manhã
Voltando a minha encrenca
Vejo como estou desarrumado
Quanto há por fazer
Ainda vivo na crença
De consertar as coisas
De fora para dentro
Sem a firmeza
Para me silenciar
Na hora precisa
Aprendo a substituir
O ímpeto de falar
Por uma tocidinha seca e breve
Ainda cedo
A imensa tentação
De falar o repetido
Vejo uma alma humana
Querendo se levantar
Saindo da lama
O motor entrou em regime
Parece um compressor
De uma boa geladeira
O botinho vem atraz
Arrastando e fazendo som
De ondas na água
Novo rumo 240
Vou para o Costão
De mata virgem
Onde sem querer
Me sinto transportado
Para a praia do Flamengo em Ubatuba
Mata virgem
Águas virgens
O canto dos pássaros
Cenário para um passeio lento
Não quero nada
Não preciso mais nada
Apenas adoraria
Poder dividir este momento mágico
Com os meus
Apesar da distancia
Vivo por cada um deles
E não sei ser diferente
Como parece o Flamengo
Este aqui é um pedaço do mar
Presente nesta represa
Que gostoso recordar aquela praia
É uma espécie de pátria
Para o recém velejador
O premio merecido
Por horas de equilíbrio
Entre vela e vento
Água que refrescava
A pele queimada
Docemente salgada
A enseada abrigada
Onde com outros velejadores
Nos sentíamos em casa
E agora ?
Jogo a ancora
Ou não ?
Deixo-me aproximar mais
Das arvores verdinhas
Desse denso conjunto
Super expostas a água
Me sinto
O seu oposto
Sigo sequioso
De tempo e espaço
Para me expor e alimentar
Sei que não sou simples
Minha vida não pode ser escrita
Em apenas uma linha
Não sou retilíneo
Não sou uma aposta fácil
Envolvo riscos
Não sou previsível
Sou no máximo
Complicadamente simples
A água está aqui
Sempre disponível
E receptiva
E minha sede
O perigo que me ronda
De uma vida secante
Aqui esta bom para jogar ancora
Já passamos tantas vezes
Fizemos pic nic
Vou me dar
O presente
De um mergulho
Afinal de contas
Nesta semana
Estou ar fazendo aniversario
Shimbum
Mergulho !
Não jornal em japonês
Mergulhei nu e quente
Me vesti apenas
De águas frescas
Boiei com os pés apoiados
No ultimo degrau
Da escada de popa
Senti me dissolver
Efervecentemente
Como um anti acido
Da acida vida
Que me priva
Deste encontro
Deitei ao sol
No bom bordo
Dourei ao sol
Me senti ainda
Tão vestido de carne
Da cabeça aos pés
Vestido de corpo
De historia
De significado
De matéria dura
Que asfixia
O verdadeiro respirar
Me senti
Como preso
Ao corpo
Como um cavaleiro
Preso a sua montaria
E sua batalha
Como o veleiro
À ancora
Querendo partir
Sinto a necessidade
De voar
De soltar
Enquanto ainda me esforço
A me prender mais e mais
Em coisas
Incrível paradoxo
Redundância de alguém
Redondamente enganado
Percebo
Do quão pouco
O que preciso
Do muito
Que penso
Precisar
Céu incorruptivelmente azul
Sol a pino
Todo o redor decorado em estratos
Pesados buscam a camada
Da diferença de pressão
Como base
Se horizontalizam
Como senhoras gordas
Sentadas
Aprôo para o Hotel
Para o almoço
Para a água com gás e limão
Proa 160
A boreste
Se vê a ponte
Linda centopéia
Se esticando
Contra os lados da represa
Nela
Trafegam pontinhos
Feitos de aço
Parece seiva
Numa alongada espinha
O que faz dela um ser vivo
Divertidos os barcos
Cruzam
Seus intervalados pilares
Enquanto se reflete tranqüila
Em azuladas águas
Brilhantes e macias
O zumbido dos Jetskis
Confrontam
O silêncio das matas
Uma borboleta
Vem por bom bordo
Em seu vôo irregular
Quase chegando
Procuro um bom posto
Para fundear
Um lugar que gravite pouco
A atenção dos hospedes
E outros curiosos
Nuvens carregadas a sudeste
Recomendam uma prudente brevidade
Quem sabe ancora de proa ?
Faço aproximação lenta
Como um pouso
No aeroporto de origem
Estacionei mesmo
Na piscina do Hotel
Encomendei um almoço vegetariano
Rostos conhecidos
Mas não são os dos meus
Continuo sozinho
Nesta piscina
Que as crianças tanto gostam
Passam horas
São águas aquecidas
Tratadas em cloro
Bem comportadas
Nos contornos precisos
Dos olhares exigentes
De ricos clientes
Que pedem aqui
Decorados daikiri’s
Em canudinhos coloridos
São tão diferentes
Das águas livres dos rios
Que descem das cachoeiras
Se misturam em tudo que encontram
E se lavam em si mesmas
Estando sempre limpas
Águas de torrente
Que somente tem
A certeza a diante do mar
Encontro com Zé Roberto e Regiane
Que bom escutar
Pessoas que se amam
Então voltamos ao Easy
Que nos esperava
Balançando suavemente
Roberto e Regiane
Me acompanham
Até o través de sua casa
Levantar ancora
Proa norte e depois 45 graus
Eixo do canal
Conversamos pouco
Nos entendemos muito
Depois da parada
Um encontro de velejadores
Conhecedores
Das dores de velejar
Captamos as direções dos ares
E nos movemos
Apesar delas
Sabemos o quanto
De vento e de leme
Sabemos manejar
Somos assim um misto
De vela e dor
Ao mesmo tempo
Sabemos os humores das águas
Dos resmungos dos ventos
Das térmicas e calmarias
Sabemos do respeito
Que cada um deles
Espera por receber
Sabemos apreciar o presente
Quando numa linda tarde de sol
Entra o vento perfeito
Sabemos guardar silêncio
E sabem que outras sensações
Permanecem em segredos
Após a despedida
O motor do bote
Não pegou
Incorporou
Minha vontade
De não ir embora
Ficar
E trocar figurinhas
Do álbum da alma
Falar dos ventos
Enquanto
Venta vida
Tivemos juntos a sensação
Que éramos paz
O despertar de uma amizade
E numa mínima brecha
O sol se apresenta
Redondo e tímido
No começo de tarde preguiçoso
Depois de encontro gostoso
De alma e corpo relaxado
Da água refletindo o céu
A ponte da amizade
Re, Roberto e eu
Um ano depois
Retomo este texto
Há uma semana do aniversario
Estou sentado
A bordo Home World
O novo motor home
Dentro da barriga do Easy
É noite
29 de junho de 2007
Acabamos de jantar pizza
Com Miriam e Chico
Jantar aqui a bordo
Pedaços de memória
Ainda se encontram
Nos cantinhos da mesa
Estamos reunidos
Para o terceiro encontro de veleiros
Da represa de Avaré
Depois de seis meses
Consegui finalmente um tempo
Para estar aqui dentro
Funcionar o motor
Que pegou na primeira
Dar uma limpeza
Tinha quase esquecido
Como me sinto em casa
Flutuando nesse veleiro
Percebo que todo esse tempo
Que não estive aqui
Algo ficou menor em minha vida
Apenas o casal de andorinhas
Habitou-o
Por esse tempo
Mergulho no silencio
Assumo meu lugar preferido
No mundo
Visto-me de veleiro
Como um frade
De seu hábito
Sinto-me fibra e pano
Madeira e escotilhas
Alumínio e inox
Deito na cama de boreste
À frente da lampadinha
Na qual me esforço em colher luz
Sinto lentamente
A alma expandir-se
E se confortar
A lua imensamente cheia
Ilumina os limites
Reluzindo nos metais
Azula o que toca
Libera energia
Por onde passa
Penetra no oco do silêncio
Como substância macia
Pegável
Enquanto imóvel nas águas
O barco parece se mover
A cada respiração
Aves noturnas
Enriquecem em longínquos sons
O próprio silêncio
Que ganha rastro
Em pequenos estalinhos
Que só quem já escutou sabe
Então chega
Uma onda de paz
Imerecida
Roberto e Regiane
Retornando a proa norte
Depois da parada
Em que conversamos
Um encontro de velejadores
Conhecedores
Das dores de velejar
Somos um misto
De vela e dor
Ao mesmo tempo
Somos conhecedores
Dos humores
Das águas
Após a despedida
O motor do bote
Não pegou
Incorporou
Minha vontade
De não ir embora
Ficar
E trocar figurinhas
Do álbum da alma
Falar dos ventos
Enquanto
Venta vida
Tivemos juntos a sensação
Que éramos paz
O despertar de uma amizade
E numa mínima brecha
O sol se apresenta
Redondo e tímido
No começo de tarde preguiçoso
Depois de encontro gostoso
De alma e corpo relaxado
Da água refletindo o céu
A ponte da amizade
Re, Roberto e eu
Dia 30 de junho de 2007
Passamos o dia para o veleiro
Amanhecemos nele
Anoitecemos nele
Pelo dia velejamos
Pelas águas puras
Da represa de Avaré
Encontramos amigos
Vimos outros veleiros
Leves e belos
Mas sobretudo
Encontramos o velejador
Que repousa dentro de nós
Nos equilibramos
Entre a instabilidade do vento
E a segurança da inércia
Singramos as águas
Nos alimentando apenas
Com seu ruído pelo casco
E junto com os outros
Retornamos à tardinha
Como filhos à casa
E quando anoiteceu
Nos descobrimos irmãos
De alma e de vela
Irmãos que se nutrem
Do que de mais belo
Pode a natureza oferecer
Então cansados percebemos
O quanto podemos
Nos considerar felizes
Como homens
Que aprenderam a dar valor
Ao que recebemos gratuitamente
O vento
A vela
A amizade
Sabia
Que a tempestade vira
Entre graves estrondos
Que abalaria as bases
Que derrubaria tudo
Pedra com pedra
Sabia que nada viria
E me levaria junto
Sem explicações
Sabia que nada adiantaria
O conjunto da obra
O tempo afiado
Que não valeriam nada
O depoimento
Dos amigos
Que a dor
Seria
Sem remédios
O mergulho
Incontido
Como a luz
Que agora
Cega
E extingue
Um
Ser amado
Como quase
Um deus
Despido
Acariciado
Sem reservas
Tido com belo
Como forte
Viril
Abraçado
E beijado
Por toda parte
Não ter outro
A não
Ceder à entrega
E se dar todo
Esvaziar-se
Outra vez
Tocar o zero
E nele
Ver-se um
Rio
Quando se abriram os olhos
Era o topo da montanha
No por do sol
O vento
Acariciava
Ainda em solidão
Tinha tocado
O outro lado
Do rio
Uma saída para o mundo
Se houvesse outra forma
De se agradecer a vida
Eu tentaria
Mas não há outro destino
Para a atuação
De quem se sente agraciado
Não há como chegar à origem
De onde tudo vem
Senão por ali mesmo
Não há outra saida
Temos que melhorar o mundo
Para os outros
Quem somos
Somos meninos
Somos meninas
A espera apenas
De sensações
De novas brincadeiras
De motivações
Nos ocupamos na tarefa
De nos multiplicar
Enquanto nos dividimos
E continuamos assim
Sempre tolos
Porem ocupados
Esperamos na salvação
Que chegará
Pronta de fora
Algo que irá nos acontecer
Ou alguém que virá
E fará acontecer
Confiamos veladamente no destino
Como jogadores na sorte
Como namorados nas promessas
Viemos da crença
Em deuses europeus
Em sinos sonoros de bronze
Igualmente sonoros argumentos
No bem e no mal
No medo
Não nos tornamos férteis
Por quanto
Não sabemos morrer
Vamos nos esticando
Perpetuando
Numa vida insípida
Sem dar o mergulho
Em água profundas
Para alem do conhecido
Nos acostumamos à desordem
De uma liberdade imaginária
Que nos prende mais e mais
Será que só existe
Esse tipo de vida
Advinda da sobre vida ?
Do escapar de um desastre
Ou de uma grave doença ?
Somente quando escapamos, acordamos
Acordamos para um estado
De atenção
Que leva à morte diária
Terminar processos doentios
Zerar-se
Bater no fundo
Será que somente se conhece
Depois da dor
Nunca livremente ?
Vou chegando ao ponto que parti
Saí na fresca manhã
Volto agora tarde pós quente
E nisso sinto a paz
De quem
Sempre volta
E deixa vir o novo
Ainda intacto
O que não morre
O que não se corrompe
O que não muda
Pois já é
Respiro fundo o vento sudeste
Que chega pelo canal
Com cheiro da tarde
Recolho as minhas coisas
Me sinto mais firme
Quando estou próximo do meu coração
Me preparo
Para mais um ano
De minha vida
Completo esta semana
O que me reserva
Este ano ?
Passeio por outonais alamedas
Praias em pedras
Lavadas em espumas
Como entardecer de domingo
O convite
A alguma síntese
O sentido
Para onde
A vida aponta
Me recolho
Abro as portas
Para o que não sei
No silencio
Sinto o abraço
Da vida
Passageiro no tempo
Nada mais sou
Matéria emprestada
Alma laçada
Suspiro tomado de alguém
Acorrentado ao amor de meus pais
Como ao desamor
Sou flecha em vôo
Pingo
Caindo do céu
Sigo
O que aprendi
Como se fosse meu
Imito os passos
Caio nos mesmos percalços
Tropeços
Repito a fuga e o medo
So agora
Aprendo olhar nos olhos
Faço de mim espaço
Para desabrochar a obra
Que a vida espera de mim
Passada a hora
Chega o dia
Passado o dia
Chega o encontro
O olhar
A resposta
Não mais
Olhar para traz
Não evitar
Aceito
Sem deliberar
Simplesmente assim
Não procuro
Sou eu
Que sou achado
O maximo que faço
É permanecer
Na vida que passa
Faço nela
O movimento
Que brota em mim
Entra pela janela
A brisa fresca
Da manhã
Velejando
as
Estrelas
Começar
Seguir passo a passo
Um novo caminho
A oportunidade única
De mergulhar
No mar do tempo
Com a total descrença
Em sistemas
Construtivos ou não
Sentir a inutilidade
Do pensamento
Do conhecido
Assim há
A possibilidade
De emergir luz
O universo
O rumo de tudo
É apenas um
As estrelas
Delas viemos
Delas somos feitos
Para elas caminhamos
Elas são testemunhas
Desde o tempo
Do milagre da vida
Tão grande
E misteriosa
Como o universo
Segue o grande fluxo
E em si
Tudo se leva
Na medida em que
Cada parte do todo
Se deixa levar
E assim pelo intimo já se ligam
Os elementos que ao se tocarem
Produzem fusão
Ao se entregarem em silencio
Zeram memórias
Sublevam ressentimentos
Então o mínimo sopro
Do vento solar
Pode os conduzir
A outros milhões de sois
A infinitas canções
Inaudíveis
Que cantam a história da vida
Em cada som
Se une em sinfonia
O mar
As ondas dos mares
Talvez possam mostrar
As ondas do universo
Espelham a grandeza
E o abandono
Em se dar
E ao silenciarem-se
Podem finalmente
Terem sido ouvidas
Apontam para uma vida de paz
Que seja atenta
Para o que dela emane
Com ouvidos abertos
Para poder ouvir
Através do silencio
As mesmas ondas
Estão presentes
No coração humano
A cada batida
O universo e o mar
Se alinham
O que faz da viagem da vida
A viagem para dentro da luz
O nosso destino comum
O caminho
Quando aproximar a fusão
Há que se chegar
Pelas próprias pernas
Quando chegar a hora
Há que saborear
Cada segundo
Quando abrirem-se as portas
Há que se estar pronto
E caminhar com altivez
E do ultimo passo
Há que fazer trampolim
E fechar os olhos
Pois se não viram as verdades
Não souberam os sabores
Não reconhecerão
E seu tempo
Não poderá mais ser expresso
Em minutos
A visão ampliada
Será para enxergar
A vida no agora
E naquela hora
Partir como um pássaro
Como uma rajada
Passageiro no tempo
Nada mais somos
Que matéria emprestada
Laçada pela alma
Suspiro tomado
Por alguém suspirado
Acorrentado ao amor
Vindo dos pais
Do que não coube neles
O que foi desamor
Como flecha em vôo
Pingos somos
Caídos do céu
Tomamos o que aprendemos
Como se fosse nosso
Sem ser
Imitamos passos
Caímos nos mesmos tropeços
Por gerações
Repetindo a fuga e o medo
Que não foram vistos
Com olhos nos olhos
Mas podemos fazer em nós
O espaço necessário
Para desabrochar a obra da vida
Tudo
Nos atemos
Atentos
Ao que não temos
Não entendemos
O conhecimento
A partir do sentir
O que sempre acompanha
Parece invisível
Depois inexistente
E com alegria
Súbito se aproxima
Como a chegada de um amigo
Só ele
Nos fala
De tudo
Passagens
Por outonais alamedas
Passam praias
Pedras lavadas em espumas
Como entardecer de domingo
O convite
A alguma síntese
O sentido
Para onde
A vida aponta
Então recolher-se
Abrindo as portas
Para onde tudo vem
Para no silencio
Deixar sentir o abraço
Que traz a vida
Respostas
Passada a hora
Chega o dia
Passado o dia o encontro
Passado o olhar
Vem a resposta
Não mais olhar para traz
Passado a resistência
Não evitar mais
Aceitar
Sem deliberar
Simplesmente assim
pronto
Não procurar mais
Achar-se
Mais que querer ser achado
É o máximo possível
Permanecer na vida que passa
Habita-la
Fazer nela o movimento
Que brota espontaneamente
Do intimo
Como a brisa fresca
Que entra pela janela
A cada manhã
Horizontes
Dias sobre dias
Em rápidas horas
Sem piscar
Tarefas de zelo
Cuidado
Carinho
Poesia escrita em tintas e vernizes
Cabos de computador
Montes de lâmpadas
Destravar a trava da porta
Do armário embutido
Que a embutiu
Começo respirar
Sinto na frieza do ar
O senso do cumprido dever
A pista esta pronta
Agora vamos
Decolar
Infância
A porta da cozinha
Dava
Para o quintal
Enquanto menino
Ficava horas sentado
No degrau
Me sentia no limite
Do espaço conhecido
Da segurança
Imaginava
O que se passava
Depois das esquinas
Assim me sinto ainda
Quando olho
O espaço
A energia formativa dos planetas
Um disco de poeira fina
Ao redor do sol
Se coagulando
E se condensando
Em rochas de um quarteirão
Que pelas massas
Passam a gravitar uma as outras
E todas ao sol
Vao se somando
Até formarem
Uns 150 protoplanetas
Vão se colidir
Suas órbitas se encontrar
Fundir-se em mega massas
Então
Somente uns 10
Vão sobrar
Nós
Aqui
E ali
Uns mais perto do sol
Com temperaturas tórridas
Uma química em constante mutação
Outros muito mais longe
Temperaturas menores
A 200 graus
Química lenta
Enormes globulos de gases gelados
Em lindo azul
E na faixa intermediaria
Nossa preciosa terra
Clima ameno
Águas se congelam nos pólos
Se evaporam nos tropicos
Permitindo o ciclo da vida
Porem depois da camada fria
Há um imenso desconhecimento
Um imenso frio
Para lá se voltam
Os olhos que querem
Desvendar o universo
Sentado em Plutão
No final da casa
No degrau da escada
Observo o que pode haver
Depois da esquina
Do sistema solar
Enquanto criança que sou
E brinco de ser
Morador do universo
Noite a dentro
A solidão
Escrever deitado na cama
Deixar os dedos prontos,
As letras prontas
Para a possibilidade
Da palavra
Escrever é transpor a barreira do eu
Tirar a casca das coisas
Descortinar o conteúdo mais arredio
Mas o corpo deve estar sadio
Não entorpecido
Não mareado
Para captar
Nada mais que isso
O que se lhe é mostrado
Visto-me de papel
Destapo-me a caneta
Deixo vir a vida
tempo
Uma pequenina fresta
No tempo
A duração de uma vida humana
O contar do tempo
É o tempo de contar
Poucas coisas
Mas as podemos fazer
Com toda grandeza
Na atitude
O tempo é zero
O potencial desencadeador
Das iniciativas
O tempo em grandes medidas
Seu encurvamento
Se desdobrando sobre a energia
O tempo cronológico
O que nos prende
E o outro o meta tempo
Atalho não é a garantia
De chegar mais rápido
É a chance de conhecer o caminho
O tempo pode-se abrir
E revelar em outra dimensão
Sua natureza
Como no ultimo segundo
Que se pode ver
A vida inteira
Como um só minuto
Bastaria para ver
O rosto de Deus
A criação do tempo
O tempo vem
Numa fração de segundo
Após o espaço
Esse se desdobrando
Continuamente
Em todas as direções
Bastou existir um espaço
Para que existisse todo
Sem nada nele
E na fração do primeiro espaço
O primeiro sopro de tempo
A primeira fração de segundo
Um tempo tão pequeno
Fez explodir no infinito
Uma fina radiação
Uma vontade de ser matéria
O útero do átomo
Não separado do espaço
E antes de completar a metade
Do primeiro segundo
A radiação virou luz
Um formigamento de luz
Que no frio
Se congelava em partículas
Que a radiação
As fez girar umas às outros
Criando próton e elétron
Espaço tempo matéria luz
Tudo se desdobrando infinitamente
Em parte de um segundo
Repetindo um padrão de desdobro
Uma assinatura
Do que existia antes
Que tinha uma vontade imensa
De ganhar corpo
Este
No ponteiro do primeiro relógio
Ainda não marca
Um segundo
A matéria condensada
Das partículas de luz
Brilha em estrelas
Toda matéria se equilibra
Em gravitação
E magnetismo
Enquanto toda energia
Também se equilibra
No significado de ser um
Um segundo
Um primeiro
Um inteiro
E do nada à luz
Da luz à matéria
E do espaço ao tempo
Por si move
Flutua
Na inseparada totalidade
Num movimento gracioso
Em arredondadas simetrias
Em sentidos gestos
A mesma frase
Permanece escrita
Em tudo que vive
Podemos lê-la
Em tudo que existe
Tudo que vive
O universo é muito novo
Ainda não deu a badalada
Do primeiro segundo
O nosso tempo
Nosso tempo
Decorre daquele
Que vai devagarzinho
O nosso é mais vagaroso
É muito maciço
Muito grudado à matéria
Não desliza como a luz no vácuo
Ele se esfrega todo tempo
A si mesmo
Como se estivesse
Coçando a matéria
Deixando-a mais alegre
Passa mais rápido ou devagar
Segundo a qualidade
De nossas aptidões
Nos parece sempre continuo
Mas é apenas a projeção
De nossa pequena compreensão
Da matéria à vida
Na complexidade da matéria
Começa a pulsar a vida
De forma muito amena
E ela toma a chance
De dar corpo
Ao que era gesto
Dar consciência
Ao que já era
Luz
A vida vai no eixo
Do zero ao um
Da mãe ao pai
Do feminino ao masculino
Do gesto ao corpo
Da intenção à realização
Vai enquanto se entende
Entende o significado
De ser um
Assim a vida
Pode ser resumida
Energia matéria e significado
Um não vive sem o outro
É uma função
Um depende do outro
A matéria
Quando atinge o significado
Vira energia
Significado é ver
Ver é luz
Luz na velocidade da luz
Luz na direção da matéria
Luz na direção da energia
Portanto luz ao quadrado
Talvez tenha a ver
Com o enunciado de Einstein
Energia = matéria x luz ao quadrado
O significado da matéria é energia
O significado da energia é matéria
Ambas transitam em seu eixo
O eixo da criação
O eixo da vida
Do zero ao um
Ainda não chegamos
No universo
Ao segundo um
Ainda dos esfregamos
Nas sub partículas
Das frações do segundo
Enquanto
Ainda
Não somos Tempo
Nosso verdadeiro relógio
Só anda quando nos movemos
No significado
Universo
O universo apenas é
O revestimento de corpo
Da intenção que o precede
A vontade de se transferir
Para o lado de cá
Da matéria
Nela estão todas as leis
Todas as explicações
Da psicologia à quântica
Ela esta escrita
Em cada grão de areia
Em cada átomo
Ela nos faz querer
Amar alguém
E querer se casar
É dela que são feitas as canções
E sobre ela
Suas letras
E essa vontade
Que impulsiona o mundo
E todos os mundos
Então se houver vida
Em outro lugar do universo
Ela também virá desta vontade
E então seremos
Quase iguais
Seremos semelhantes
Pois é por semelhança
Que conhecemos
E reconhecemos
Por semelhança avançamos
Por planos simétricos
Para conhecer a vida
Por semelhança
O espaço e a matéria se expandem
Quase igualmente
Muito semelhante
É o eixo da vida
E o eixo do significado
Semelhante
É o movimento de criar
E o movimento de amar
Nascer e morrer
Dar e receber
São semelhantes
Então de certa forma
Em cada parte da matéria
Este escrito o que é a matéria
Em cada pedaço de vida
Se pode ler
O que é a vida
Numa escrita única
Com a mesma caligrafia
De quem escreveu o tempo
Ordem
Tempo implica em ordenamento
Pois não se repete
Se amplia
Ordem
É a superação de uma condição
Que esta pronta para a próxima
Ordem é não começar
Um momento
Antes de completar o outro
Assim é a estrutura
Onde se estende
O tempo
É o convite
Para as mudanças
Necessárias
É o que avisa quando se chegou
A um estado
Do qual nada mais há para fazer
É na ordem
Que o um e o zero
São iguais por dentro
Nela
Não é conhecido
Se esta aqui ou ali
Nela
Somente
Se está ou não
Para ela
Retornam os ímpetos
Depois de lançados
A ordem
É a alma
Do tempo
A ordem
É como o tempo
Se conhece
Girassol
Sigo a luz
Como um gira sol
Não sei fazer outra coisa
Somente faço isso
Pois só assim
Não sou nulo
A luz
Qualquer luz
É melhor que o escuro
Como é duro
Ter olhos
E não ter luz
Sou fotofílico
Foto sensível
Foto sustentável
Sou foto gâmico
Só sei amar
O que tem luz
Sou foto fágico
Me alimento de luz acumulada
Em grãos
Dependo em tudo da luz
Tanto
Que esqueci de ser luz
Cego
Sou convidado
Para outra visão
Que não entra pelos olhos
Que vai direto
Ao coração
Convite
Cada percepção
Leva
A um convite
Se estiver
Com a casa
Em ordem
Fica claro
Em aceitar a forma
Como chega
Cada elemento
Toca um correspondente
Aqui dentro
Que só de entender
Responde
Que sim
Pois fala
O que já estava escrito
De uma outra forma
O que faz
A passagem
Para um entendimento maior
Mais vivo
Menos referido
Ao que passou
O equilíbrio então
Nos joga
Mais longe
Pois escorrega
Pelo que é simétrico
E só para no que é novo
O convite também chega
Quando se esta
No meio da confusão
Chega como um enxaguante
Para diluir e desembaraçar
Amaciando
O convite
Para que cada i
Encontre seu ponto
No fundo
O convite depende muito mais
De ser capaz de ouvi-lo
Pois parece sempre
O mesmo convite
Independente do tempo
Quando se o entende
O que resta
É o mesmo que nulo
Para aceita-lo
Não é preciso luz
O aceito de olhos fechados
A química
Diferentes temperaturas
No mesmo forno
Fez a química
A resposta igual
Dos diferentes
Numa certa circunstancia
Por ela
Se aprende
A ruptura dos limites
Equações
Que expressam
Igualdades
Trazem a possibilidade
De realizar
O que já estava impresso
A reação leva
A um outro patamar
De consciência
Nela se passa
De conhecedor
A conhecido
Porem apenas
Deixar a manifestação
Do irresistível
Azul
No silencio
Ouço
O pulsar da vida
Linda vida
Não cabe
Em palavras
Apenas apresenta
A si mesma
Sem reservas
Sou este azul
Esse encontro de luz
Entre céu e terra
Riquezas
Petróleo do céu
Surge um novo tipo de reserva
A ser prospectada
Não escavada
Porem há
Que procurá-la
Não é fóssil
É muito mais antiga
É eterna
Depósitos de riquezas
De infindável beleza
E energia
Disponível para aqueles
Que sentem em si
Fervilhar os céus
Como uma co-relação
Uma ressonância
Entre mundos
Estas reservas são incalculáveis
São valiosíssimas
E estão tão próximas
Depende apenas
De encontrar em nós
Seu correspondente valor
O brilho
Pode refletir
Toda a luz
A matéria
Pode refletir
A energia
O senso de liberdade
Não pode ser comparado
A nada
Toda riqueza
Pode ser convertida
Num só ponto
Como se toda gravidade
Num só
Espaço
Então converte tudo a si
Encurva
O que é limitado
E então é revelado
Aos homens e mulheres
O que só se conhece no silencio
São riquezas antigas
Que aguardam um vinculo
Um mínimo elétron
Fecha o circuito
Produz a fagulha
Entra em ignição
Então a união
Do céu
E da terra
Contato puro do ser
Com o ser
De pura energia
Quero
Quero
Com minha vida
Alcançar a vida
Quero me achar
Me perdendo
Em seu mistério
Uma ponte
Que sai de antes de mim
E chega até depois do outro
Estaciono meu momento
Bem ao lado
Do eterno
Fico silencioso
Ao lado
Do que não conhece ruído
Encosto no lado
Do que
Não é físico
Adentro
No que
Não ocupa espaço
Como quem vai à praia
Como quem não quer nada
Meio sem querer
Mais azul
Como o mar é azul
Quanto mais azul
É o céu
Absorvo todo azul que posso
As outras são cores
Que não consigo decifrar
É infinito
Paciente
Sem esforço
Até esqueço
De quanto
É respeitoso
Posso ler nele
A origem
De tudo que é vivo
A fonte
Que alimentou
A vida
O sorriso da primeira célula
Posso sentir
No formigar do meu rosto
O sorriso dos átomos
Contam
A poesia da matéria
E no seu interior
Junto com a solidez do mundo
O silencio
Tudo que teimo
Em continuar
A ouvir
Volto
Volto
Ao meu caminho
Só de ida
De idade
Estou na preferida
De se estar
Vida articulada
Relacionamentos
Compromissos
A matéria
Duração é dureza
Do tempo
Terra
Meu nome é Terra
Minha rotação
24 horas
Ao redor do sol
Me ciclo
É a cada 365 dias
Gravidade 9,9 metros por segundo
Atmosfera de ar
Saturada em água até 2 %
Toda vida
Que nascem em mim
É terra também
Não excluo ninguém
Nem do passado
Nem do futuro
Meu nome é Terra
Flutuo no firmamento
Tenho uma missão
Transformar as sementes de vida
Numa forma de viva
Que alcance o eterno
Que se comunique
E que descubra
Toda historia
E então possa estar presente
Naquele inicial abraço
Que o espaço deu na matéria
O ao mesmo tempo
No beijo final
Que a matéria dará na luz
Enquanto isso
Cuido das sementinhas
Para que revele seu todo
Sopro
Plantas respiram
Ao contrario
Exalam oxigênio
Animais sopram gás carbônico
De volta para elas
Os dois lados do sopro da vida
Desconhecido
Me deparo
Com o desconhecido
Ao minguar minhas resistências
Recebo
No máximo
O silencio
Nele escuto
O convite
Para materializá-lo
Preenche-lo
Com minha vida
Com meu corpo
Assim ser
Vida
Na sua vida
Com posso
Com o calor de umas poucas idéias
Aquecer o sol
Como ser útil
Se o que tenho para dar
São apenas resistências
Matéria dura
Com uma gota
De consciência
Meu corpo
Todo fervilhando
Em sentir a presença
Vôo
Faço o vôo cego
Que me preparei
Como piloto
Não imaginava
Que o faria
Sem sair do lugar
A imensa gratidão
Por estar
Neste tempo e lugar
Por ter sido antecedido
Por familiares
Tão maravilhosos
No empenho deles
A adesão
Silenciosa
Tomo carona
Na linha da vida
Estendo-a aos meus filhos
Entrego
O que recebi
O que não é meu
Na consciência limitada
Para realizar
O vôo da vida
Escrever
Dou carona
Enquanto eu também
Sou caroneiro
Nisso somos colegas
Quem escreve e quem lê
Em partes iguais
Atento para
O que está escrito
Na natureza
Nisso me lanço
Para nessa vida
Escrever
Escrever
O que está escrito
Dentro de mim
Minha bíblia
Só tem paginas
Em branco
Esperam
Ser escritas
Com a luz
E mas nada
Que
Se apague
É lida
Com olhos
Do ser
Ouvida
No
Silencio
“Ah
Se conhecêsseis
O pai ”
Universo
Então
Quando olho céu
Sou nuvem
Pode ser que encontre
A passagem
Para os significados
Sem precisar
Do porre
Das idéias
Da refringência
Do pensamento
Do ralentar da palavra
Então num olhar
Poderá estar
Todo universo
Encontro
Em mim
Há um coração puro
De menino
Somente
Posso ouvir a vida
Quando não ouço mais nada
Somente
Há energia quando
Todo magnetismo se aquieta
Aí ele aparece
Claramente
Inegociável
Ai vejo o nome
Que está escrito
No vão das letras
A luz que acha
A fresta
E toca
Me toco
Quando
O encontro
Frestas no átomo
Nas galáxias
Nos mundos
Às vezes
No silencio escuto
O seu respirar
Na presença silenciosa
Brincando
De luz e sombra
Na alegria
De estar
Neste tempo
Mãe
Mãe é o universo
Que abraça
Pela manhã
Que acolhe
Como se hoje
Fosse manhã de domingo
Mãe que em silencio
Dá o ar
Dá vida
Um imenso amor
Que amou
Primeiro
Dele
Somos descendentes
Viemos do universo
De célula em célula
Esta impressa
Esta vontade de conhecer
De espreguiçar a psique
Vontade de se alegrar
De ir adiante
Um desejo anterior
Misturado de saudade
E esquecimento
Tantos estão dentro
Mas num olhar
Podem-se enxergar os movimentos
Um código
Um gestual
Uma mensagem cifrada
Que somente
Cada um
Pode entender
Uma marca lá no fundo
Quase invisível
Que em tudo se expressa
Opção
Não sei
Só sei
Não ter outra opção
Ao conceber
O universo
Queria algo de si
A isto vou buscar
Para isto meu corpo
É antena
E a mente um bisturi
Quero decifrar a onda
Que me invade
Navego a humanidade
Subo à ponte
Ocupo meu lugar
Vejo um universo delicado
Constituído de infinitas formas
Cores e expressões
Uma constante explosão
De amor
E gozo
Tão criativo
Não se repete
Não fica velho
Está livre
Pronto para a próxima
Das mudanças
Se aceita
Não conflita
Parte para outra
Outra Forma
Outro Tempo
Outra Dimensão
Não se gasta em manter-se
Se renova
Abertamente
Atinge a cada momento
Um grau mais profundo
Na escala do intimo
Na escala do conhecer-se
E assim se acelera
Em sua expansão
O que o universo conhece em mim
É o máximo
Que posso dar para ele
É o mínimo também
Pois não há outra opção
A não ser dar tudo
O que equivale dizer
Receber totalmente
A minha herança
A que esta dormente
E preciso acordá-la
A que está no tempo
Perda
Ao separar
O céu da terra
Criamos a dualidade
Perdemos a jóia
Ao confrontar
O que se une
Deixamos o brilho da matéria
Ofuscar o brilho do céu
( Ou foi vice versa ? )
Não soubemos ver o céu e terra
Como é constituído
Não ouvimos os poetas
Ficamos presos ao trilho
Ceder ou não ceder
Voltar ?
Polarizados
Acordamos ontem
Ou dormimos hoje ?
Céu e terra
São um
No eixo matéria energia
O significado
Viaja nele
Rindo-se
Hiato
Complexo
É ser a expressão individual
De um ser coletivo
Simples
É ser a expressão coletiva
De um ser individual
Uma forma
De se contar
Como se é formado
Nesse íntimo
Funde-se
Em complexidade
Que vai precisar
De mais tempo
Para se conhecer
Então
Uma nova força
Pode se interpor
Um vetor
Virado apenas
Para dentro
Gravitando
A verdade
Ainda não conhecida
Se depositando
No interior
Da matéria
Fazendo dela
Apenas
O que ela é
Aprendendo
De si mesma
Sem tempo
A terra
É a condição
Da vida
O universo
É a soma das possibilidades
De se concretizar
A vida é a chave
A condição
De se conhecer
É o flash de luz
Que rompe o escuro
E dele se ocupa
Quando chega
Se encurva a si mesma
Se reflete
O homem gravitou
Até o momento
Em que ele refletiu
Caminho das pedras
A primeira palavra escrita
Escreveu
A historia
Marcou a passagem
Do ato reflexo
Para o ato de refletir
A diferenciação da vida
Isto é a historia
No saber escrever
Porem a diferenciação será muito maior
No dia que a humanidade
Souber ler
Ler
O que já está escrito
Dentro das coisas
Ler
No tempo
A identidade da ordem
Ler
O coração pulsante
Da matéria
Ler
O código da vida
Que está escrito em cada um
Então
Não precisaremos mais andas
No caminho das pedras
Alta voltagem
A lâmpada acesa
É luz
Calor e Energia
Calor é matéria
Energia é energia
Luz é o significado
Luz é o salto
Da matéria
Para a energia
Mas a passagem direta
Pode queimar
Como numa voltagem muito alto
E queimar a possibilidade
Da compreensão
Na paz
A grande descoberta
Que pode ser
O relacionamento
O atraso em avançar
No significado
É proteção de voltagem
Pois se entendêssemos
A Energia
Não poderíamos mais viver assim
Quarto estado da água
Um campo de luz
Assim poderíamos chamar
Nosso planeta
Dosagem de luz
E sombra
Em equilíbrio
Um campo de água
Em seus 4 estados
Um campo de crescimento
Uma esfera de atenção
De convite
Par subir
Para elevar-se
De um arranjo mais simples
Para um mais complexo
De uma percepção tênue
A uma conciencia viva
Um transe
Então deste planeta
Sairia uma meta energia
Para o universo
Ah,
O quarto estado da água
É a meta água
É a água
Não mais na matéria
Matando a sede do universo
Atalho no tempo
O achei
Sem procurar
Ele me achou
Era uma ponte
Que ligava o momento presente
Ao presente de todo momento
Era uma passagem
Na fresta
De um segundo
Conhecer
A eternidade que há
Num cisco de tempo
O coração
Ganhou
Um passo ritmado
Os olhos
De tranqüilizaram
Com o que viam
As mãos
Ficaram frias
Como os pés
A luz
Se encheu de cor
E as cores de significado
A respiração
Cadenciou
Baixa
O pensamento
Não procurou problemas
Tudo parecia em seu lugar
Então vi
Que há uma brecha
Entre cada segundo
Um presente
Para quem
Não esta com pressa
Um presente
Para quem não está
No passado ou futuro
Nem no grego
A palavra presente
Tem o duplo significado
O presente que recebemos
É o presente
Contendo todo o tempo
Assim é
O tempo
Recheado de infinitos
Atalhos
Passagens
Que unem as dimensões
Como a matéria
É recheada
De vazios
Cada molécula
Encerra um abismo
Entre si e a outra
Os átomos então
São constituídos
Do consistente nada
Onde apenas
Se pode expressar
A carga em equilíbrio
Pode um núcleo
Duas mil vezes maior
Se equilibrar com o elétron
O quantum
A menor parte da luz
É matéria ardente
É a letra
Com que se escreve
Toda palavra
O tijolo
De toda
Criação
Ainda assim
É repleto
De vazios
Tudo é vazio
Em tudo vibra
A musica do universo
Aquela
Que acompanha
O choro das crianças
O beijo dos amantes
O silencio entre duas mentes
Quando concordam
Então o vazio do espaço
O silencio do som
São atalhos do tempo
A ausência de gravidade
Pode ser sentida
Lá na estratosfera ou no silencio
As cargas magnéticas
Podem ser como um raio
Ou a tensão criadora
Aquela que está presente
Quando a gente está
Com a pessoa amada
O atalho
Está
Em qualquer lugar
Toda matéria
É janela
Para o tempo
O desejo
De conhecer
A verdade dos fatos
Quando inunda
De significado
Tudo o que ocorre
Assim a beleza
É o lado estético
Da verdade
Ela tem o poder
De levar
A outra dimensão
A um mundo de encantamento
Onde funciona
Outra causa e efeito
Outra ordem
Onde as de coisas
Se expressam livres
Num idioma expresso
No abraço de um filho
Na benção de um pai
Então a passagem
De uma dimensão para outra
Se dá pela capacidade de ordem
Tudo que existe
Guarda em seu intimo
Uma determinada formatação
Nela cada coisa
Tem a capacidade
E acesso a um arranjo melhor
Mais belo
Verdadeiro
Completo
Mais unitivo
Simples
Sagrado
Então vem
O convite para conhecer
O coração da matéria
O pulsar dela
Não está separado
Do seu próprio
A condensação da energia
Em seu eixo
De equilíbrio
Sair dele
Pode significar
Radioatividade
Calor
Explosão
E cinzas
Mas o equilíbrio
Gera um continuo
Uma vontade de seguir assim
Que leva à ordem
A condição onde se satisfaz
A natureza singular
Permitindo manifestar
O sentimento
De estar resolvido
Irreversivelmente livre
Sem volta
Ao conflito
São muitos os nomes
Que se pode dar
Para este atalho
Mas o importante
É passar por sua porta de entrada
Lançar-se por ela
Sem garantias
Nem a certeza
Da permanência
Apenas o estado
De ser
A pleno
Bem humorado
Relaxado
Compreendedor
Assim estar
Intoxicado
Pela vida
Tucano
Caminho batido
Asfalto gasto
Sol quente
Fica esquecida
A terra fresca
Do sub solo
Caminho de ida e volta
De todo o dia
Da mesma hora
Uma linha de puxar
Os pensamentos
E receios
Os buracos são conhecidos
O desvio
É automático
Mas uma vez
A cada cem
Passa um tucano
Voando para a mata
Escoltado
Por dois pequenos passarinhos
Rouba toda atenção
Em estonteante
Amarelo cítrico
Então até o asfalto
Se torna colorido
A vida faz sentido
Tudo voa com ele
Desafiando a gravidade
E a aerodinâmica
Vem o convite
Para uma vida
Sem espinhos
Que não precise pensamentos
Remédio e doenças
Que nos faça vivos
E se perceba
O vôo do tucano
Em cada caminho
Placenta
Nascemos
Da vida
No planeta
A vida
Que a vida
Gera
Toda vida é sagrada
Pois toda
Vem da mesma placenta
A bolha de vida
Que precisamos
Até respirarmos
Quando nascemos
Não precisamos
Mais dela
Quando morremos
Não precisamos
Mais dele
Vivemos a vida
Ligados
A ele
Nele plantamos
Nossas sementes
Nela nossas melhores sementes
Somos atraídos para o útero
Como todo corpo
Ao centro da Terra
A atração
Para o interior dele
É gravidade
A atração
Para o interior dela
É gravidez
O planeta
É a referencia
De riquezas
Ele que nos sustenta
Devolve gravidade
Em sustentabilidade
Ela também
O amor
Nos sustenta
Ela é
A
Célula de vida
Ao nascer
O bebe pesa o mesmo
Que a placenta
Por ela nos alimentamos
Respiramos
Nos sentimos vivos
Ao nascer
Não só
O pulmão se abre
Mas se cessa
O fornecimento das energias
Da placenta
O mundo externo a mãe
O frio e o ar
Nos moldam o físico
A placenta
Como uma cápsula usada
É descartada
Pensamos na placenta
Como se fosse da mãe
Mas não é
Ela é na gravidez
E por toda a vida
Do rebento
(Rebento
É o que é
Benzido duas vezes )
Como um braço amputado
Que pode ser sentido
Mesmo muito tempo depois
Ainda se pode
Sentir a presença
Da placenta
Aquela entidade nutridora
Fornecedora
Dos elementos que precisamos
Simetria
O homem é
A Consciência
Que tem do mundo
O mundo tem no homem
A oportunidade
Da consciência
Ela pode brotar
Quando houver condições
Sem hostilidades
Ela vem de paz
Da solução dos processos
No relacionamento
Nela o universo todo
Se recria
Em ligações simétricas
O cérebro é como uma nós
Uma pequena semente
De todo universo
Nele se reproduzem
Os mesmos processos
Que formam o universo
É um universo todo encolhido
A espera de condições
Para se expandir
Isso o torna como
Um preciso instrumento
De simetria
Um canal aberto
Para o tempo
Para a evolução
Desde o primeiro momento
Até o ultimo
Estão escritos nele
Um dial para freqüências
Do surgimento ao ocaso
De tudo o que há
Consciência
Consciência
É um fenômeno
Quântico
Onde ocorrem as ligações neuronais
Não é onde acende
A fagulha do entendimento
Em micro tubos
Ligações complexas
Se acendem reflexas
Tudo interferem sobre elas
O mundo todo forma
Cada pensamento
Recai sobre ele
Como uma carga elétrica
Não fica sem rumo
O cérebro e assim
Um campo
Onde nada fica desconectado
Um rodamoinho em silêncio
Que pode captar todas freqüência
Do caos à ordem
Pode mergulhar numa ou noutra
E lá permanecer
Até expandir
Ódio ou amor
Divergência ou convergência
Ruptura ou adesão
É a própria natureza relativa
Que encaminha em seu leito fluídico
Aos superlativos
Mas em sua natureza de silêncio
Que se pode escutar
Outro murmurar
O que existia antes
O que plasmou o agora
Em seu passo anterior
Então o cérebro
Destitui-se de sua forma em eu
E capta o todo
Toca o silêncio onde fervilha
Uma vida maior
E mais duradora
Escuta o rumor
Como uma antiga canção
Bem conhecida
Anterior a si
E mais duradoura
Após tudo existirá
E nela
É como captar
A formação do mundo
O movimento da vida
Do que a faz viva
O que chega sem saber de onde vem
Então apenas a paz
Pode apontar
Para origem ou destino
E o universo espera
Já esperou o todo tempo
Toda a vida
Espera agora um gesto
Tem no coração humano
A oportunidade de se saber
Isso faz de cada ato humano
Consoante a criação
Consoante ao destino
Se consciente
Tem a alastrante conexão
Com o sem tempo
Sem ser perdido
Sem ser inominável
Sai da matéria para a energia
Conhece a porta
Por onde tudo o existe
Precisou entrar
Alma
Como decifrar esta substancia
Que permeia a vida
Além do tempo
Que dá sentido a cada gesto
Carrega e recarrega
Os sentidos
É a ultima camada da vida
Na qual ela própria vem
E vai
Vem para se saber
Se tocar e misturar
Para ser detectada
Vem com sede de matéria
Para nela se manifestar
Ilimitadamente
Para depois ir
Como afirmação
Como resposta
Deslocando o eixo da vida
Um ponto menos a jusante
Entre a origem e o destino
O ponto
Em meio ao tudo
Onde está o agora
A alma humana é a flor
Cultivada ao longo da criação
Por milhões e milhões de anos
E ao chegar aqui
Transfere a capacidade
De olhar através
Além da matéria
Além do eu
Acima das nuvens
E começar a decifrar
A questão central da vida
A sua constituição
O que apenas por simetria
Se pode ver
E não fora dela
Entre fumaças constatar
O que se conhece apenas
Na proporção de si mesmo
A chance que somos
Ao desvendar
O que não está separado
E vendo aqui
Conhecer
O que está lá
Tocando com a ponta dos dedos
Conhecer a natureza
Do tocar o intocado
Descortinar
O que ficou referido
Apenas em sonhos
Ver
O ficou fora das cores
E da luz
Ouvir as nuances
Do longo do silencio
Em suas escalas
Adentrar ao vazio
Semi infinito
Que existe entre dois números
Ocupar o sentido
Que ficou sem lugar
No confronto entre escolhas
Conhecer o que reservava
A possibilidade
Que ficou descartada
Saber pela ausência
O significado do calor
Que deixou
Por que igualmente viemos
Como ao conhecê-lo
Voltamos para ele
Na mesma medida
Em que ocupamos
Seus vazios
Carne
Encarnar
Quer dizer
Entrar na carne
Mergulhar
De cabeça
Sem medidas
Dar e receber
A vida
Como ela é
Descubro
O sentido
Pelos sentidos
Pode porem
Uma inversão primeira
Contaminar tudo
Para encarnar
O leve
Deve se infundir no pesado
Modifica-lo
Ser um com ele
E eleva-lo
Só se encarna
Quando se desce
No fundo da matéria
Mesmo
Que o emborrachamento custe
O preço da fusão
São torpes
Trôpegos
Trinados
Desafinados
Como o som
Do vento
Não conhecem a harmonia
Que só o tempo
Trará
Para isso há o tempo
Como revelador do processo
Tempo de cura
A encarnação
Traz a brotoeja
A sarda da coagulação
O ronco seco
Do que não é mais
Sutil
Assim defronto
As forcas
Que nunca se encarnaram em mim
Como cores
Que se recusam
A ser pintadas
Pensamentos
Que se satisfazem
Enquanto tal
Não fizeram o calo
Do repetitivo esforço
Da ferramenta
Passou
Ao lado
Desencarnado
Ficou
Na garantia
Do amor dos pais
Ficou
Na sombra
Do ulme transplantado
Ficou a salvo
Do quebrar a cara
Do toma dá
Deixou vir
E aceitou
Sem resistência
Ficando imune
Ao clamor de vida
Por refringência
Se abrigou no divino
Que o manteve menino
Em conjunturas planas
Não aprendeu o dentro
Apenas
O em cima
E para cima
Todo não santo
Ajuda
Em aviador
Se travestiu
De asas
Em fazendeiro
Em empresário
Em bem suceder-se
Ao casar-se pedir
Para que ela junto
Entrasse o disco voador
Não poderia ser para ele
As leis
Já que não a gravidade
As regras
Já que jogara
Outro jogo
Estando a acima
Das correntes
E do entendimento
Tranformando a solidão a um
Em solidão
Em grupo
A inversão inicial
Alastrada
Por todas as áreas
A repulsa da matéria
Junto da vontade
De penetra-la
O mundo se apresentando
Como palco
Para ação
Enquanto permanecia
O conforto
Da cochia
Sem entrar
Na historia
Sê-la
O fim chegou
Numa tarde fria
Os ossos derrubados
Não se quebraram
Pois era pouco
O seu peso
E o zero
Lhe coube
Inteiro
Melhor
O melhor de si
É o espaço
Do encarnar
É onde
Se encontra
As marcas da construção
É por onde brota
As águas
De própria grota
A distração da vida
É a de encarnar
No outro
Sendo assim
Um parasita
Da vida
Deixado levar
Apenas pelos olhos
Que enxergam para fora
Constituímos uma indentidade
Visual
Virtual
Por não contatar o que somos
Somos assim
O que pensamos ser
Damos espaço
A preferências e gostos
Distrações
Deixamos de considerar
O fio
Que nos uni a vida
O que ao fiar
Puxamos
O melhor de si
O petróleo as avessas
Não esta interrado
Esta nos céus
Encarnar é tão bom
Que até as divindades
Quiseram experimentar
Incarnar é entrar em contato
Com as infinitas possibilidades
Possibilitadas pelo ser
É um mistério tão grande
Que preferimos então
Reencarnar
Para facilitar o entendimento
E perpeuar
O eu
Mas alem do eu
Há a passagem
Para a dimensão do ser
Aquela que não se chega
Por acumulação de dados
Nem por desejo
A dimensão alem
Do banco de dados
Que juntos formamos
Uma densa camada de pensamentos
Que formata nossas vidas
Definindo padrões
Uma espécie de buffer
Onde estão disponíveis
Os dados considerados aceitos
Por um critério
Predefinido
Pelo interesse de outros
Para ele
Construímos nossas expectativas
E conjunturas
É o horizonte conhecido
O qual para alem dele
É arriscar-se
Sair do riscado
Correr o risco de ter contra si
A forca do acumulado
Assim neste bufffer
Esta os fundamentos da economia
Da natureza neo liberal
Esta a historia
De buscar o bem
E fugir da dor
Esta a calcinação
Da liberdade de expressão
E da bondade
Esta a fragmentação
E a falsa idéia
Que ela faz sentido
Esta o julgamento e condenação
Pré estabelecido
Ao que o possa perturbar
Então errar
Ousar
Fazer curva
Lembro do medo
De viver tão certinho
E não chegar a nada
Sair do aprisionamento
Que os outros fazem em mim
É encarnar
O espírito teme
Ficar desprezado
Mas não se manifesta
Fica somado
Aos grandes tesouros
Que estão perdidos
A espera que possam ser achados
No interior daquele
Que seriamente quer a vida
Há pois que descer
E se colocar
Onde a vida está
Não viver
Para justificar
Essa ou outra idéia
Que pertencem todas
Indistintamente
Ao mesmo balaio
Que se produz no encontro
Da pouca inteligência
Com a superficialidade moral
É onde estamos
Estacionados por séculos
Confortavelmente
Encarnar
O sexo
É encarnar
No outro
É a linha material
Pela qual puxamos
A existência
A cada uma
Uma aposta
Na possibilidade da vida
O romance
É alimentado
Pela presença do outro em si
Um outro capaz
De redimir a solidão
E a chateação própria
Alguém que venha
Ajudar a carregar
O que não conseguimos
Espelhos
A possibilidade
Do pior de mim
Também está presente
O gatilho
Que a deflagra
Esta a cada momento
O medo dele
O torna mais forte
Mais disfarçado
O pior em mim
É um grande alerta
Que mantem acordado
Todos os pecados do mundo
Estão em mim
Escrito em código
Toda violência
Que a vida acumulou
Por milhões de anos
Encarar
É encarnar
É superar
Com calma e cuidado
Descer aos abismos
Da alma humana
Ver sua extensão
Nos acordos e decisões
Mais comuns
Encarar
Sem brigar
Sem se emaranhar
Então a percepção
De toda fragilidade
Da vida
Uma obra delicada
O que a faz
Tão valiosa
A noção do melhor de mim
Encarna o mais central
De toda vida
A responsabilidade
De pilotar
O tempo
De colocar-se corretamente
Na esteira
Do âmago da vida
Já a noção do pior de mim
Descortina a extrema beleza
Da constituição nossa
Construída sobre o acumulado da dor
Que pode ser superada
Pelo sorriso
A responsabilidade
De estar sempre cuidando
Sem garantias
Então
Viver
É uma arte
De entrar na vida
Ao mesmo tempo
Que a vida entra na gente
Ao encarnar
Usa o tempo
Para construir o eterno
Possibilidade
Venho trabalhando a algum tempo
Uma sensação que me invade
Com profunda relevância
Considero o tempo
Essa vastíssima quantidade
Bilhões de anos
Considero a massa
Bilhões de galacias
Cada uma com bilhões de sois
Nossa vida
E uma ocorrência espetacular
No universo
Como podem ser tantas outras
Que as possibilidades criativas
Podem alcançar
Mas em toda matéria
H’a um imprit
Uma verdade estampada por dentro
E seguindo este fluxo
Vamos acompanhar
O desenrolar da linha da vida
Essa linha que conhecemos
Nessa formatação
Que nos faz humanos
A vida segue
E busca no seu intimo
Mais consciência
Sobre si
Sobre tudo
Sobre sua origem e fim
Nesta viagem metafísica
H’a o despertar de novos horizontes
Ao despertar de cada ser
Como se corroborassem
Para a criação de um campo
Uma aura que envolvesse a todos
Um campo humano
Apontado para algo
Superior
Nisso temos gasto
Nossas vidas
A milhares de anos
Nos esforçamos em religiões
Ritos rituais mantras
Toda sorte de divindades
Nos esmeramos em criar formas
De chegar mais perto
Do céu
Talvez não tenhamos notado
O tanto que já esta escrito
Em nossa alma humana
E ao que
Esta consciência
Aponta
Algo que não pode ser apenas lido
Deve ser sentido
E ai o viez dos sentimentos
Mas ao desentoxicar os sentidos
Estes podem apontar
Para uma curiosa direção
A de que o cérebro ‘e individual
Mas a mente, a consciência
Não
Ao ampliar a base da consciência
Ampliamos a bolha de luz
Que nos permite enxergar
E que traz em si mesma
Uma determinante ascendente
Que diz respeito a todos
Então cada ato humano
Cada passo
Pertence a toda humanidade
Cada entendimento
Contribui
Para elevar a todos
Todos homens elevados
Profetas e santos
Expandiram essa base
Cada atitude nossa
Esta ligada a expansão
Ou a mesmice
Essa sendo
Apenas uma manutenção ou continuísmo
Do nível do ser presente
Então existe um convite
Para usarmos nossas vidas
Na expansão da consciência
Criando as condições
Da manifestação
Da criação
A que vem anterior
A que esta presente
A que deve continuar
E que para isso
Quer se utilizar
Do interior humano
Tem no interior humano
O seu canteiro de obras
Sua materialidade
Então surge uma forma de ver a vida
Comprometida com toda a vida
Com todo o ser
Ao entender
O conteúdo do imprint
Escrito em cada coração
Ao se aceitar o convite
Para manifestar o conteúdo do intimo
No que fazemos
Ao sentirmo-nos
A ponta da flexa
Lançada no principio
O ponto avançado
Que toca por primeiro
O fim
Os passageiros da linha da vida
Que descobrem em si
Serem seus condutores
Construir o divino
Construir o divino
Eis o chamado
Da humanidade
Parece ilógico
Pensar que um deus
Esta a disposição
Que fica de plantão
Com um mecanismo
De castigo ou merecimento
Que usa a moral
Como nos foi ensinada
Porem ‘e bondoso
Não parece lógico
Que tenha predileção
Desta a outra era
Que estava ausente no jurássico
Que permitiu a extinção
De todos os dinossauros
Parece improvável
Que goste de ficar invisível
Que permita o sofrimento
Que espere nossa conversão
Para enfim com sua graça
Dar o perdão a algo feito por um antepassado
Este deus
Se junta a outros 300 deuses indus
E outros mil deuses sofis
Este ‘e o deus
Que o homem criou
Segundo a semelhança de sua ignorância
E infelismente
Ao deus a que estão condenados
Milhões de crentes
Um deus de trocas
Que gosta de ser bajulado
Que atende a pedidos
De vez em quando um milagre
Para não ficar desapercebido
Ou envia um grande profeta
Espasmo de luz
Flashes para iluminar
Centelhas esporádicas
Numa multidão
Que caminha
No escuro
A cada milênio
Se entretem de um jeito
Se imposta de uma forma
Num horizonte apenas
De poucas gerações
De pouco entendimento
E movido por seus sofrimentos
Se joga na correnteza das paixões
E vive correndo atrás
Oh the lonely people
They don’t know where come from
They don’t knew who they belong
Fomos contabilizados
Pertencentes a reinados
Principados e papas
Fomos queimados por pensar diferente
Fuzilados por ditadores
H’a poucos anos atrás
Nossas leis são uma colcha de retalhos
Feitas para agradar
Manter a maquina do governo
A defesa do líder
Ou do partido do líder
Ou de seu guerreiro
A historia e cheia
De decisões erradas
Que feriram a base da vida
Guerras estúpidas
Mortes
Trabalho forcado
Escravidão
Dominação
Tributos obrigatórios
E para quem nasce dentro da corrente
Cabe apenas
Aceita-la e engorda-la
Esta correnteza
E a madrasta invisível
Que nos roubou de nossa mãe
Uma natureza
Que não esta ai
Para ser bucólica
Que tem leis físicas que entendidas
Transformaria as outras leis
Em sem sentido
Que se descortinada
Revelaria uma forma de vida
Completamente diferente
Vida
A vida
E muito
Antiga
E e’ imperioso entender
Seu processo
Seu desenrolar
Sua origem
Esta escrita na química
Dentro de cada célula
E uma matéria de estudo isolada
Sempre foi incapaz
De ir la no fundo
Onde se e preciso ir
Para desvendar
Os seus segredos
Física , astrofísica, cosmologia
Química, bioquímica, metaquimica
Psicologia ,transpsicologia , estudo do ser
E sempre quem quis abraçar tudo isso
Era uma especio
De gênio charope
Um crente desequilibrado
Um ateu revoltado
Um louquinho
Quando em grupos
Se transformavam em seitas
Ou fundavam religiões
E prometer salvação
E tão antigo
Que condenar a escravidão
Prometer liberdades e paraísos
Na outra vida
Na troca por adesão ao deus nesta
Assim nos muitiplicamos
Em anestesiados cérebros
Incapasez de ir alem do funcional
Somos condenados
A viver a hegemonia do dinheiro
E a suas impiedosas leis
Nos fomos inseridos não no mundo
Mas ao mercado
Ao mundo mercado
Fomos divididos
Em paises ricos e pobres
Poderosos e vassalos
Mudamos as formas
Mas ainda
No mesmo conteúdo
Toda forma de arranjo mais inteligente
E’ pelos poderosos
Sempre cooptada
Também como e’ ompossivel
Desmontar uma milenar maquina
Pelo lado de dentro
Tudo que ‘e feito contra ela
Acaba sendo incorporada a ela
Como melhoria
E assim ficamos cada vez mais a mercê
De um sistema de servidao
E pertencimento
Pertencemos a uma cultuta
A uma moda
A um tempo
Usaremos os tóxicos disponiveis
E veremos ser arrastados
Milhões de inconformados
E daremos a resposta
Somente para aqueles
Que fizerem uma pergunta
Como se somar
Se incorporar
As formas de vida dominante
Todos queremos ser americanos
Daqueles que vemos em filmes
Ricos em lindas casas
Com filhos brincando
Num quintal
Sem cerquinhas
Enquanto a mãe cuida da casa
E o pae chega do trabalho
A tardinha
Todos queremos os bens de consumo
De viagens a computadores
Todoas as facilidade eletrodomensticas
Todos queremos boas escolas
Um teatro por perto
Uma praça
Dinheiro para gastar
E um bom líder
Para permitir a continuidade disso
Todos queremos ter privacidade
Para fazer o que quizer
Dentro de nossas casas
Queremos sexo
Queremos o prazer
Quanto mais melhor
Não nos importamos
Se temos que o buscar
Repetidas vezes
Que nos cansamos
E nos enjoamos
Com a repetição
Então inventamos variações
Coberturas de chocolate
Gratinados e sex shops
Mas não deixamos
A peteca cair
O show deve continuar
Então ensinamos aos filhos
Perigosas meia verdades
Que os arrastarao para dentro da correnteza
Estragamos o meio ambiente
Na mesma proporção
Que devastamos o interior da alma
E surgimos como substrato
De um estrago acumulado
E irreversível
Quando morre alguém
Encomendamos a alma
E o enterramos rapidinho
Evitamos visitas de criancas
Para que não conheçam
Seu enfadonho fim
Para que cresçam sorridentes
Ao longo da ignorância
Para que estão fadadas
Criamos paraísos para os enviar
E tememos que no fundo
Não cheguem a nenhum lugar
Trocamos estes medos
Por crenças anestesiadoras
Por vidas passadas e futuras
Tudo
Para evitar
A vida presente
Aquela que teríamos
Que nos dedicar
Para entender
Que teríamos que mergulhar
Sabendo que teríamos que deixar
Muita coisa para traz
Que teríamos que ir contra o mundo
E contra todos
Então não teríamos tanta energia
Então sucumbimos
Nos entregamos e pedimod
Mais uma doze do tranqüilizante habitual
Diferente
A coisa pode ser diferente
Já vimos que sozinhos
E’ impossível de romper a camada
Quem sabe juntos
Quem sabe podemos partir
De outro ponto de partida
Quero ser parte de deus
Para não morrer
Para não sofrer
Não não entediar
Quero beber a água
Que não tenha
Que bebe-la sempre de novo
Quero um prazer
Que não tenha que procura-lo
Sempre de novo
Quero participar
Da terefa
De criar deus
Da ignição a um deus
Sem batalhas ou revoluções
Sem destruir tudo que esta ai
Num primeiro momento
Aceitar o rumo
Que vem tomando a historia
Reconhecer o sofrimento
Que sempre acompanhou
Cada ser vivo
Não querer mudar isso
Mas aceitar
Este rumo ate aqui
Sentir que em seu coração
Esta escrito o imprint
Mesmo que não o saibamos ler
Seus sinais e códigos
Estão num idioma
Por nos desconhecido
Mas esta escrito
Construtor de deus
Em alguma língua
Parte de deus
Pedacinho de deus
Filho de deus
Um filho que vai crescer
Que um dia
Vai ser irmão dele
Vai ser como ele
Vai ser ele
Se puder ler seu coração
Gens
Vivo a transição
De meus gens
Em gente
Vivo a possibilidade
De dar vida
As possibilidades
Enquanto vivo neste momento
Reúno as condições de vida
Que estavam separadas no universo
Então o contraio
E dele estraio
A seiva do entendimento
Quero passar pela zona
Onde esta transição
Procura apenas a si mesmo
Agora a ultrapasso
Onde o universo quer se explicar
E não o entendo
Mas este sentimento
Me acompanha
Desde menino
Então como menino
Me lanço no universo
Como seu contrator
O contraio como dor de parto
E disso espero nascer
O novo
O que venha para todos
Que responda para todos
O que possa passar pelo silencio
Respeito
A tremenda vontade
De seguir da vida
Que aposta loucamente
No sexo e na emocionalidade
Como seus vetores
Mas o que quer
É apenas seguir seguindo
Se possível em algo melhor
Então respeito sua segunda vertente
A de mergulhar
Na escuridão e na ausência
Supero a sensação de solidão
E parto de novo
Abro os braços
Me deixo cercar
Pelo que nunca pode
Se aproximar de nada
Ondas cores e sons
Que não puderam
Ser conectadas
São as perdas
Nunca antes ganhas
Por nenhuma batalha
Como um presente
Se aproximam
E tocam
Como meus dedos
No teclado deste computador
Eu sou teclado
E manifesto
O que o universo
Tem guardado
Nuvens de gás
Peso de fumaça
Atração de átomos
Um gélido confortável
Primal embrionário
Quer luz
Quero o amor
Que seja bom
Para mim
O melhor de mim
É a razão
De minha vida
É o motivo pelo qual
O universo se contorceu
Para cada nova vida
A cada momento
Há a possibilidade
De se manter no foco
Isto é na ordem
E sentir a germinação
Que a vida provoca
Como há a possibilidade
De uma redução
No não melhor
Uma mentira ou medo
Falso amor próprio
E bumba
Ficamos plenamente justificados
Socialmente e culturalmente
Porem vazios
Aceitamos
Um estranho
Vivendo dentro
Ficamos emborrachados
E precisaremos de drogas fortes
Para nos sentirmos vivos
Torcer por times
Tornamos nacionalistas
Fies a religiões
Ficamos a deriva
Esperando que alguém
Possa nos salvar
Olhando o universo
Constatamos que suas verdades
Estão alicerçadas dentro
Sapo protegidas
Por uma camada
De silencio e paz
Apresentam estrutura bela
São harmoniosas
Florescem na aceitação de si
Há um cimento
Que une as células
Átomos e moléculas
Um traço de união
Tênue
Quase invisível
Que é operado
Por um bec
Co
Sinto a vida
Como um navio de ferro
Que atravessa mares
Terras, idiomas
Como um cortiço de quarteirão
Damas e dramas
Domínios , reinados
Como uma densa mata
Cheirosa e cigarrenta
Travada
Como o riso de menina
Pergunta e desenho
Carinho
Mais novo
Cada manha
Acordo
Mais novo
Retrocedo
O tempo
Descomplico
Vejo cicatrizar
A fenda
Da escuridão
Me resumo
Em espírito
Em luz
Me sinto mais vivo
Pronto
Para brincar
Menos exigente
Mais curioso
De onde tudo vai dar
Acordo menos
Penso menos
Sou mais
Chamado
Construir deus
Eis o chamado
Da humanidade
Parece ilógico
Pensar que um deus
Esta a disposição
Que fica de plantão
Com um mecanismo
De castigo ou merecimento
Que usa a moral
Como nos foi ensinada
Porem ‘e bondoso
Não parece lógico
Que tenha predileção
Desta a outra era
Que estava ausente no jurássico
Que permitiu a extinção
De todos os dinossauros
Parece improvável
Que goste de ficar invisível
Que permita o sofrimento
Que espere nossa conversão
Para enfim com sua graça
Dar o perdão a algo feito por um antepassado
Este deus
Se junta a outros 300 deuses indus
E outros mil deuses sofis
Este ‘e o deus
Que o homem criou
Segundo a semelhança de sua ignorância
E infelismente
Ao deus a que estão condenados
Milhões de crentes
Um deus de trocas
Que gosta de ser bajulado
Que atende a pedidos
De vez em quando um milagre
Para não ficar desapercebido
Ou envia um grande profeta
Espasmo de luz
Flashes para iluminar
Centelhas esporádicas
Numa multidão
Que caminha
No escuro
A cada milênio
Se entretem de um jeito
Se imposta de uma forma
Num horizonte apenas
De poucas gerações
De pouco entendimento
E movido por seus sofrimentos
Se joga na correnteza das paixões
E vive correndo atrás
Oh the lonely people
They don’t know where come from
They don’t knew who they belong
Fomos contabilizados
Pertencentes a reinados
Principados e papas
Fomos queimados por pensar diferente
Fuzilados por ditadores
H’a poucos anos atrás
Nossas leis são uma colcha de retalhos
Feitas para agradar
Manter a maquina do governo
A defesa do líder
Ou do partido do líder
Ou de seu guerreiro
A historia e cheia
De decisões erradas
Que feriram a base da vida
Guerras estúpidas
Mortes
Trabalho forcado
Escravidão
Dominação
Tributos obrigatórios
E para quem nasce dentro da corrente
Cabe apenas
Aceita-la e engorda-la
Esta correnteza
E a madrasta invisível
Que nos roubou de nossa mãe
Uma natureza
Que não esta ai
Para ser bucólica
Que tem leis físicas que entendidas
Transformaria as outras leis
Em sem sentido
Que se descortinada
Revelaria uma forma de vida
Completamente diferente
Coisa
A coisa pode ser diferente
Já vimos que sozinhos
E’ impossível de romper a camada
Quem sabe juntos
Quem sabe podemos partir
De outro ponto de partida
Diário de Bordo
Domingo
13 de fevereiro
2005
Aeroporto de Pampulha
Espera do vôo 1759
Destino Viracopos
Lá me espera um amigo
E tantas recordações
Da infância
O sentimento de amizade
Oportuno e presente
Há tantas décadas
É um vôo de retorno
Passado e futuro
Nesta semana cheia pela frente
Sinto de interromper a tarde
Agradável de domingo
Com os meus
Porem é mais um dia
Do longo período que vivemos
Desde o começo das férias
Foi um tempo bom
Foi útil para
Desamassar as fibras
Foi muito bom
Para recuperar a proximidade
Com eles
Sou mais realizado
Sei da pureza e honestidade
Dos meus sentimentos
Sei o quanto
Podemos ir longe
Ate o infinito
Já estou a bordo
Na ultima fileira
Janelinha 24 A
Me sinto bem aqui no fundo
Entrei pela porta de traz e sentei
O aeroporto opera
Cabeceira 31
Fato raro
De certa forma
Parece estar
Tudo invertido
É a primeira vez
Que faço este vôo
Para Campinas
Lembro-me de comparar
O clima de B.H
Com o de lá
Lugares com clima
Menos instável
Muito céu azul
Agora a tarde
Nublado alto em 6/8
Stratus adornam o Horizonte
É meu primeiro vôo deste ano
Quantos outros
Me esperam...
Push back
Começa nova aventura
Para frente e para o alto
Subiremos a alturas
Compatíveis
Com o cruzar dos Andes
Andaremos tão rápido
Que nos igualaremos
A balas de fuzil
Mas por enquanto
Nos arrastamos lentamente
Rumo a cabeceira 31
O vento noroeste
Trouxe nuvens de chuva
E esta mudança
Letícia me trouxe
Ate o aeroporto
As crianças ficaram
Estavam matando saudades
Da prima querida
Que os visitou
Conversamos sobre ontem
Do que descobrimos
Sobre nos mesmos
Um estado duradouro
De sentir o fervilhamento
Num ponto no centro do cérebro
Hoje pela manha
Acordei muito leve
Me sentia ainda em suspensão
Senti uma perna fininha
Repousada ao meu lado
Era de Thales
Fomos para a piscina azul
Do clube aquecida
Nossa praia
Tomamos sol
Nos demos a leitura
Juntos
Demos uma olhada
E uma molhada
Na Folha e na Veja
Começa a decolagem
Pulamos um pouco
Até o ultimo tranco
A chuva vem vindo
Voamos sobre a cidade
Mineirão cheio de gente
Chegamos as nuvens
E logo saímos delas
Para o puro azul
Que espetáculo
O tempo feio
Fica imediatamente esquecido
O azul
É a marca registrada
Da Terra
Curva a esquerda
Continuamos subindo
Um porre de azul
O vôo se estabiliza
As pernas ficam preguiçosas
O corpo muda de peso
Forças opostas
Sinto contra o banco
Para baixo e para traz
Nuvens amarradas
Desenham aquarelas
No fundo verde
A nuvem vista por cima
É uma obra de arte
Da galeria do céu
Algumas são rococó
Outras despojadas
Todas lindas
Saboreio uma castanha do Pará
E suco de maçã
Me alimento da vista
Sobre Poços de Caldas
Começa a decida
Campinas com 28 graus
Nos aproximamos
Cruzamos as nuvens
Num milagre chegamos
Mantenho a sensação
De nunca ter realmente chegado
Em qualquer lugar que vá
Silencio nas turbinas
Conhecerei agora as vantagens
De descer pela escadinha de traz
Não acredito
Fizemos o negocio
Depois de duas semanas
Compramos os moldes
De um lindo barco
De quarenta e tantos pés
Ainda deve ser construído
Porem esta é
A melhor parte
Aprenderei a me organizar
E tocar a obra
Quando tiver os recursos
Por enquanto
Sinto a alegria
Do infinito das possibilidades
Levamos os moldes para Avaré
Na mesma oficina
Que fizemos o Home World
Ali esperam o momento
De dar vida a um barco
Uma luz sobre as águas
Na empresa a continua tarefa
De colocar em ordem
Camadas e camadas de papeis
Saudades
Longas conversas
Ao telefone
Um alimento
Que não mata a fome
Apenas a revela
Campinas -> BH
Poltrona 1f
Não existe
Este avião começa em 2 F
Portanto 1F deve ser
O lugar do co-piloto
19 de fevereiro
Manhã iluminada de sábado
Linda desde cedo
Acordei as 7:30
As 8:00 no pedágio
Viracopos as 10:00
BH debaixo de chuva
Por aqui
Choveu a noite toda
Depois de amanha
Retorno para Campinas
E Avaré sucessivamente
Sempre voando
Me tornarei avoado
Se já não for o bastante
Não tenho mais avião
Porem me sinto muito mais
Confortável assim
Não temo saber
Que o destino esta sob chuvas
Rota complicada
Não me exaspero em fazer
Rotas alternativas
Sempre pensando negativamente
Assumo minha co-pilotagem
Seguro e tranqüilo
Nesta janelinha
Eles guiam olhando
Os mapas terrestres
Eu vou pelos do céu
Janelinha F boreste
O lado que se vê a Mantiqueira
Se sente o cheiro do mar
È bom decolar de Campinas
Foi daqui que parti
No meu primeiro vôo
Era julho de 1967
E sentado num Braniff DC 8
Nunca mais fui o mesmo
Era um menino
Até colocar o pé
No primeiro degrau da escada
Quando desci em Lima
Era um mocinho
Levava comigo as turbinas
Descubrira o chamado do alto
De ter um coração grande
Num mundo pequeno
Estas mesmas luzes azuis
Cortavam minha alma de navegador
Como se fosse para Marte
O cheiro do ar condicionado
Me levara a uma outra pátria
Um mundo acima deste
Lembro da aeromoça
Demonstrando o salva vidas
Vestindo-o com dificuldade
Era meu rito de passagem
Ao meu lado minha irmã
Na frente meus pais
Quando soou a turbina
Gravei
O agudo do grave
Escrevi em minha alma
Nasci
Para isto aqui
Viracopos
Vira vidas
Vira menino em homem
Push back
É tão confortável este vôo
Mexe comigo
Daqui decolei para Santiago
Todas as 3 viagens
Que fiz para aqueles amigos
Tenho uma tendência andina
Ao decolar
Deste viradouro
Vejo pela janela
Dois velhos 707
Sete velho setes
Gostaria que voassem
Pois em meus sonhos
Eles estão nos céus
Nele cruzei o Atlântico em 1973
11 horas ate Paris
Me sentia como numa gestação
E ao sair e contemplar
A estrelinha da Varig
Era como uma mãe
A silhueta dos 707
Uma sensação tremenda
De gratidão
Preparar para decolagem
E pronto
Começamos
Decola suave
Ronquinho estridente
Do flou desta turbina ao meu lado
Após curva a esquerda
A diminuição da rotação
Para 80 %
Sobre as Bandeirantes
Aproximamos de Valinhos
Passamos sobre o Sitio
Casa de Valinhos
Que lugar querido
Quantos momentos felizes
Montanhas de Valinhos
Quem sabe assim
Acho a casa de Marcel
Continuamos subindo
Estico as pernas
Na proa de Varginha
Afastando de São Paulo
Deixamos para lá
Nuvens acinzentadas
Subida em 3/8 de baixo stratus
Restrição de altura
Vamos a 12 mil pés
Aqui cruzamos com o sul
Da Academia de Pirassununga
Pode estar com algum exercício
Nova curva a esquerda
Represa de Igaraçu
Nazaré Paulista
Águas limpas
Um presente
Para São Paulo
Começa o zig zag
Fernão Dias lá em Baixo
Altos stratus aqui em cima
Perdemos o contato com a terra
Agora nossa pátria
São as alturas
Cruzamos com uma super nuvem
Vem da montanha até aqui
E passa mais um tanto
25 mil pés
Aqui todas
São de puro algodão
Se desmanchando
Com o contato
Com o vento
Tão arredondadas
São formas individuadas
Espalhafatosas
Como descrever
Este espetáculo
Da natureza
Nuvens altas aqui
A menos 25 graus
E ainda fofinhas
Não deveriam estar contraídas
Congeladas
E cristalizadas em gelo ?
Não
Continuam a ter
A memória de vapor
Como beijos e sonhos
Ainda quentinhos
Na padaria
Sem os sonhos
As nuvens seriam
Incorrespondidas
Nivelamos a 38 mil pés
Que lindo dia
Que vôo
Avião novo
Quantos milhões de dólares
Vale cada cent
È a ponte
No limite do imaginário
No planeta
Lembrei que estou
Ainda de jejum
Talvez por isso a fome
À medida que avançamos ao leste
Entramos sob um lençol
De sua alta camada
É como uma espuma
Longa membrana
Por infindáveis espaços
Apenas filtram
Uma pequena parte da luz
Que as atravessa
Filtros solares
Que se iluminam
E tudo ao seu redor
Curva a esquerda
Bloqueio do VOR
Começa a descida
Reduzindo a potencia
Começa a lenta e controlada
Despencagem
O corpo leve
A respiração confortável
A boa sensação
Sou um ponto no céu
Dentro de uma flecha
Que cai
A 900 Km por hora
Só se prende a mim
O essencial
Me renovo
A cada segundo
14 kilometros
Realizo minha sede pelo alto
E de todos os antepassados
Em mim
Comunico a cada célula
Que é possível
Abro minhas asas
Mesmo sendo corpo
Mesmo sendo homem
Mesmo sendo só
O ruído das turbinas
É musica
Aos ouvidos
Musica da tecnologia
Do estudo da engenharia
Do conhecimento do interior humano
Uma faixa de 50 minutos
Onde escuto
O que vem de dentro
Nessa velocidade
Nesta direção
Perco alguns segundos
Isto se Einstein estiver certo
Quanto à compressividade do tempo
Refletir o espaço
O segundo que perdi
E relação a todos que estão no chão
É a porta do eterno
A grandes velocidades
Diminui-se a sustentabilidade
Então caio em mim
Não pela proximidade da onda de choque
Mas pelo choque
Que me traz esta onda
Sem sustentação
O vôo se dá
Em pequenas escorregadelas
Compensadas por mecanismos
Da a sensação
De ar pastoso
Assim escorrego também
Deslizo sem freio
Pela fresta do tempo
Sinto meu corpo mais e mais pesado
Estamos descendo rápido
Minha mão esta pesada
A letra ficou pequena
Minhas pálpebras
Pesam kilos
Pequenos estalinhos
No meio da cabeça
Sangue parece efervescer
O sono me abduz
Escuto o silencio
Tudo para
O avião toca o solo
Sacoleja em freada
Pampulha
Aos poucos chego
E vou entrando
Em mim
Nem acredito
Que em poucos minutos
Serão eles
21 de fevereiro
Manhã de segunda-feira
BH em azul
Amanheceu novo dia
Á noite
Estrelas brilhavam
Acordar docemente
Com a camisa
Do avesso
Ver o despertar da casa
Como a afinação de um concerto
Instrumento por instrumento
Despertar a família
Aquela qualidade não individual
Que alimenta a alma
Assim foi pela manhã
Quando fizemos as lições
Juntos
Escrevemos o novo caderno
Que Nathalia
Sentiu as palavras
Foi concerto
Quando fomos ao exame de Letícia
E passou a fibra ótica por seu nariz
E de uma TV se revelaram
Os segredos do céu da boca
Palato e cordas vocais
Vi em cores
Cada recôndito
Das passagens respiratórias
Foi o passeio que realizei
Por mais outra
Aberturas de seu ser
Rumino
Como forma de assimilação
O que vivo
Para não correr o risco
De estar despreparado
Na hora da verdade
Pampulha
Aguardando o vôo
BH- Campinas
São 17:00
O avião que me levará
Acabou de pousar
Imenso pássaro
Exibe o branco
Da paz
Cai a tarde em cores
Inunda a janela do segundo andar
Do terminal de embarque
Já abordo do 1759
Poltrona 2 F
Push Back
É sempre bom voar
Taxiamos lentamente
Aguardamos atrás de um Airbus
Voaremos contra o por do sol
Para o oeste
Como tem feito a humanidade
A tarde é suave
Os céus levemente coberto
3/8 de baixos stratus
Acendemos as turbinas
Como um paradoxo ser
Enfurecido gentilmente
Como o corpo
De um sonho antigo
De voar
Não há acordamento
Que me separe
Dele
Sinto a emoção
E atração
Que faz os céus
Sou um ponto
A ser sugado
Pólo infinito
Hoje pela manha
Com Nathalia de 10
Estudávamos Saturno
E ao saber das 16 luas
Larissa , de 7, indagou
“E quantos sois ? ”
Apenas um
O mesmo
O nosso
Sol que anima
E dá ritmo
A vida de seus planetas
E alem dele
Muitos dele
Muitíssimos sois
Se fazem de lanterna
Para termos o privilegio
De conhecer o infinito
Só há verdade
Quando se está
Face ao infinito
Não há consciência
Em ambiente fora
Da luz
E o sol
È nosso endereço
No universo
Sua luz é inspiradora
Para o vazio
Do infinito
Na resposta de Larissa
Pode parecer pouco
Apenas um sol
Mas é muito
É o passaporte
Para a vida
Fomos arrancados
Da química
Pela luz
Átomo por átomo
Mãe matéria
Pai luz
A luz para a qual
Não encontra
Resistência
E assim nos desenvolvemos
Muito
Muito lentamente
No curso da luz
Da consciência
Como filhos do Pai
A luz rosada
Se espalha
Nas encostas das montanhas
As estradas
Se destacam pelas linhas
Não mais pelas cores
A saída para Brasília
Pois o caminho
De J.K
Cruzamos nuvens
Leves e inconsistentes
E subimos mais
Que lindo é ver
Daqui
O rosto do Brasil
Como é curioso saber
Que estas características físicas
Estão presente em todos
Obedecemos à química
À biologia
Como um corpo à gravidade
Recebo um beijo
Do sol
Em toda sua luz
É o encontro
Entre Pai e filho
Matéria e essência
E como filho
Procuro a luz
Que há em cada coisa
Cada fato
Cada ser
Cada ocorrência
Busco o que está escondido
Nas intenções
No intimo das coisas
Anseio por conhecer
O interior vedado
De cada verdade
Conhecer o significado
De
Viver
Sinto um convite
Ao silencio
Fecho os olhos
22 de fevereiro
Manha de sol
Saindo de Avaré para Cerqueira César
Solavancos me fazem perceber
Que caminho
Por uma estrada brasileira
Na caminhonete branca
Subo e desço
Estas colinas
O que faço desde 1993
Quando mudei para Avaré
Quanto tempo
E desde lá
Utilizo este caminho
Todos os dias
Fazendo as contas são
Cento e setenta e dois mil kilometros
Algumas voltas ao mundo
Giro o mundo
Quando viajo
Por esta mesma estrada
Como uma vida
Mesmo curta
Reflete o eterno
Esta estrada
Mesmo apenas 30 kilometros
Reflete todo mundo
Nela me associo
Nela me deixo levar
Me solto
E solto a vida em mim
Para que tome
A sua forma
Assumo que muito faço
Quando apenas
Não atrapalho
Campinas
25 de fevereiro
2005
Saio um dia antes daqui
Chego lá um dia depois
Farei umas escalas
Pararei dois dias
Com um amigo
Que fica no caminho
Manaus !
Mais ao norte
Amizade, mais ao centro
Começa aqui o vôo
Que realizo
Sem pressa
Graças a milhagem acumulada
Que patrocina
Este meu vôo
Amanheci em casa
Avaré as 5:00
E parti
Chegando a Viracopos
Emiti os tickets
Com todas escala
Em todos pedi janela
Esqueci
De pedir comida vegetariana
Agora é hora
De partir
Primeira etapa Galeão
Campinas – Rio de Janeiro
É muito bom
Ir para o Rio
Vamos voar praticamente
Apenas em uma latitude
Proa leste verdadeiro
Com a declinação 108
A mesma velocidade
Que gosto de dirigir a Castello
Campinas cresceu muito
Em transporte de cargas
Dois MD 11 aguardam no pátio
O sol da manha
Espanta a chuva preguiçosa
Difusa pelo Sudoeste
É um vôo Varig
Apesar da milhagem
Ter sido Tam
Rio de Janeiro
Que lindo destino
A cidade mais linda do mundo
Neste 737 Varig
Sinto-me
Em boas mãos
Varig representa
Bem mais
Que uma companhia aérea
Push back suave
Lembro-me com alegria
De ver Varigs
707 em Orly ou JFK
DC-10 em tantos Lugares
747 em Narita
Era como ver o Brasil
Em cada aeronave
Minha casa aérea
Era um sinal de inclusão
Dos céus do Brasil
Nos céus do mundo
Ao entrar na aeronave
Me sentia
Entrando no Brasil
Ao ver o sorriso da atendente
E falando em português
Tem guaraná ?
Quebrar um jejum
De falar português
E ficar num hiato sem idioma
Olhar a estrela da cauda
Era proporcional
A bandeira brasileira
Como a Aquarela
De Ari Barroso
Esta para o hino
É uma longa pista
A de Campinas
Um convite para uma longa viagem
Começa a decolagem
Com suave assobio
Ganhamos altura
Curva a esquerda
Nuvenzinhas isoladas
Aqui e ali
Via Bandeirantes
Pedágio de Campinas
Que bom estar por cima
Anhanguera
Mais velha
Mais estreita
A linda serra do Japí
Onde gastei
Uma das sete vidas de gato
Voando baixo
Numa tarde chuvosa
Poderia ter ficado por lá
Piloto ainda inexperiente
Resolvi voar baixo
Sem visibilidade
Um erro de 15 graus
Me levou ao rasante
Que quase levou muitos vindos anos
Piloto novo
Dá muito trabalho
Para anjo da guarda
Quantas horas de vôo
São necessárias para desenvolver
A astúcia cautelosa
Meu anjo teve que trocar de penas
Muitas vezes
Quantas ainda por vir
Vejo A Mantiqueira
E alem dela
O oceano
O céu marcado por jet streams
Umas correntezas de ar
Bem superiores
Um edredon de algodão
Ainda recobre as montanhas
E seus vales
As nuvem ficam mais brancas
Indo para o leste
E se afastando de São Paulo
Ficam tão branquinhas
Que até parece
Feriado
O azul se refina também
A medida que
Se abrem os céus
O inconfundível azul sobre o mar
Sem inibição
Azul top less
Servem um lanchinho
Estou varado de fome
Comerei ao menos o pão
A gentil aeromoça
Me ofereceu
A sua salada de frutas
É a primeira refeição
Primeira colação
Como dizem os italianos
Colação deve vir
Das tripas colando umas as outras
De tanta fome
O cheiro de peito de peru
Confere a este vôo
Um odor de vôo internacional
Sinto uma grande alegria
Da oportunidade
Deste vôo
Que delicia esta cereja
Pena que veio
Apenas uma
Cruzamos a serra
E iremos fazer a rota
Ao longo do mar
Que delicia
Um passeio de aero barco
Pelo mais lindo litoral
O mar
Azul mar azul
Copia os céus
Que lindo
Você é bem vindo
Neste dia
Voamos bem sobre Ubatuba
E o litoral todo recortado
Sua marca
Praias do norte
Ponta da Joatinga
Parati
Mergulho com os olhos
Nestas frescas e verdes
Águas
Que aula de geografia
Olhar a coisa real é muito mais
Que olhar o mapa
Agora pipocam ilhas
Ilhas e mais ilhas
Angra dos Reis
Não sei que reis são estes
Mas sei uma coisa
Tem bom gosto
Que lindas
O aeroporto e Verolme
Começa a nossa descida
Posso sentir
O cheiro do mar
A maciez de suas espumas
O avião embala
Se tinha algum atraso
Tirou agora
Ao longe
A monótona
Restinga da Marambaia
Curva a esquerda
Senão pousaremos
Em Jacarepaguá
Aqui algumas nuvens nos esperam
Encobrem parcialmente
Valorizam o que se pode ver
O Rio de Janeiro
Em pleno Fevereiro
Rio o ano todo
Pareço voar
Um daqueles velhos
Cartões postais
Sou um cartão postal
Enquanto escrevo
O outro lado
O contato com o belo
Liberta
Engrandece
A beleza
É a verdade
Expressa graficamente
O contorno da Guanabara
O Pão de Açúcar rodeado por nuvens
Hoje com mais açúcar
Procuro por Cristo
Não o vejo
Mas sei que esta lá
Parece fé
Mas é
Apenas geografia
Campo Grande ou outro
Bairro pobre da periferia
Tem seguramente escola de samba
Aeroporto Tom Jobim
Inspira a musicalidade
Dos roncos e assobios de jato
Estamos chegando
9:00 da manha
Já parece dia quente
Uns canais da Ilha do Governador
E reta final
Curta e toque
Chegamos pela base aérea
Muitos Hercules
E o Sucatão
Pátio central
Paramos junto do MD 11
Com cara de França
Chegamos
Apenas a primeira escala
Aqui troca de vôo
Rio de Janeiro – Salvador
Vôo Varig
2160
O aeroporto tem pinta
Que vai te levar
Deste para o outro mundo
Poltronas largas
Gracioso formato
Lojas de jóias
Lojas de grife
praça de alimentação
Um shopporto
No silencio
Sinto a musicalidade
Desta cidade
Escuto musica
Ao ver
O Jumbo da Air France
Sinto aquelas flechas
Saindo e chegando
Nos mapas das aerolinhas
O Rio de Janeiro
Mais que ao Brasil
Pertence ao mundo
Estou sentado na poltrona 8 A
Avião lotado de italianos
E curitibanos
Ao lado se encontraram colegas
Rumo á mesma convenção
Em Barra do Saí
Como conversam
Hora propicia
Para meus tapa ouvidos
Ir para Salvador
Na verdade
É voltar
Foi o lugar mais longe
Onde fui
Pilotando o PT – NGZ
A cidade que conheci em 1963
Viajando de navio
A Princesa Isabel
Que ao chegar a Bahia
Continuava a libertou
Os escravos outra vez
Estávamos no camarote 123
E fiquei impressionado
Com as igrejas
Minha fez promessa
Para a santa protetora da vista
Para a miopia de Tarsila
Lembro que chorei
Ao rezar para o pedido
De minha mãe
O vento mudou
E vamos decolar
Pela cabeceira 31
Aguardamos outro Tam
E um bandeirante
Para decolagem
Lá vamos nós
Correndo pela pista
Com uma labareda de fogo
Decolagem curta
Voando baixo
Atendendo a restrição
Barcos pequenos atados
Um ao outro
Na baia de Guanabara
Parece a vista
De Malabar Hill
No mar de Bombaim
Sobe a baia
Curva a esquerda
Lindas montanhas
Petrópolis e Teresópolis
A linda vista
Do Dedo de Deus
Seguimos a BR 116
Cruzando todos os rios
Que descem para o mar
Agora subimos
Estamos mais para o céu
No que para a terra
Vamos no caminho inverso
Do da família Real Portuguesa
Eles vieram para o Rio
Salvador foi a capital
De Portugal e Algarves
Há 200 anos
Graças a Napoleão
Agora é do Ritmo
Graças ao Olodum
Os fortes ventos
Levantam poeira
Dando um toque cor de rosa
A serra toca o mar
O verde tem sede
Do azul
Um rio bem caudaloso
Desemboca no mar
Parece parado
Estamos no Espírito Santo
Começo a fazer
Um relaxamento no Espírito
Dormi
Acordei com a aeromoça
Retirando o lanche do vizinho
Me alimento com o azul
Num dia perfeito
Abaixo apenas das estrelas
O vôo costeiro
Começa a decida
Logo em Salvador
Tenho mais saudade
De meu pai
O Salvador com quem vivi
Quando viemos aqui
Ele exagerou numa tal Cajuína
Uma batida de caju
Conheci seu outro lado
Ele também
Quase virou do avesso
Depois estive aqui outras vezes
Mas nenhuma me marcou tanto
Como aquela primeira
Até dias Salvador
É o lugar onde o Brasil
É mais brasileiro
No povo
Na arte
No governo
Todo baiano velho é igual
Caime, Amado ou ACM
Na fala e no cabelo
Pois se fundem num só
Na alma baiana
Alma única
O recôncavo baiano
São muitas reentrâncias
No mar dourado
Grandes rios em curva
Fazem um quebra cabeça gigante
Apenas para estatais e multis
O pólo industrial
Quebra o bucolismo
Antecipa a cidade
Recifes protegem o sul da cidade
Curiosa paisagem
Navios cargueiros e petroleiros
Uma grande baia
Que emprestou o nome
A este estado de coisas
Farol da Barra
Alinhamento na reta final
No antigo 2 de julho
Bairros pobres
Paisagem amarela
Toque
Chegamos
Estou tremendo
Na reversão
Salve Bahia de todos os Santos
Salve
Continuação do vôo 2160
De Salvador
Para Natal
Só uma pisadinha
No solo baiano
E de volta ao avião
Vamos bem mais vazios
Tenho condição
De me ajeitar melhor
Push back
Começamos nova etapa
Natal
Saio da cidade relativa a meu Pai
E vou para outra
Relativa a minha filha
Assim de certa forma
É o vôo rápido
De minha vida
Vôo de geração em geração
Quero voar para lá
Com ela e toda família
Chamei por telefone minha mãe
“ Já chegou em Manaus “
Ainda falta um pouco...
Lembrei do filho de Hillary
O neozelandês que chegou primeiro
Ao topo do Everest
Que pelo telefone por satélite
Cumprimentou o pai
Do topo do mundo
Aqui falei com ela
Deste avião que conhece
As altitudes everestianas
Sou filho de Salvador
Mas não sou natural
Da Bahia
Me torno baiano
Quando sinto no vento
E o cochichar dos coqueiros
Preparação para decolagem
E ai vamos nós
Decolagem suave
Curva a esquerda proa norte
Vamos para perto
Da linha do equador
Vamos para o tórrido
Me sinto bem
Vejo a conquista da vida
Em querer em tudo ser verdadeiro
Não querer nada de mal
Em ser amigo, franco
Espontâneo e direto
Vivo a conquista
De ter uma família unida
E tão bela
Ter uma meta de vida
Um objetivo claro
Que brotou no meu peito
Tenho a felicidade
De ter descoberto
A universalidade das palavras
Procuro escrever
As palavras não ditas
De um novo idioma
Idioma nascido na percepção
Direta das coisas
O idioma do belo
Quero entrar no espaço entre as linhas
Entre as letras
Universos de possibilidade
Quero a musica
Composta por 70 notas
E não 7
Quero abrir passagem
Para um novo
Que ninguém nem imagina
O que vejo
Não está separado de mim
Nem de quem lê
Existe uma ponte invisível
Que vai ligando
Permeando tudo
E apenas sugere
Que não há tanta separação
Individuação como pensamos
Este lindo mar
Em sua dimensão mais no fundo
Não está separado de quem o vê
Mesmo se através
Da leitura de palavras
Numa folha de papel
E este é o verdadeiro vôo
O que fazemos
Sem precisar ir as alturas
Quando descobrimos o novo
Com todo poder restaurador
E nos jogamos nele
A possibilidade de uma vida
Sem contendas
Sem stress
Sem subir em ninguém
Sem maltratar ou poluir
Sem feridas
Uma vida em que a natureza
Não seja algo separado
Os rios o mar
Que o céu não seja lá distante
E as nuvens
Sejam decifradas
Uma vida de paz
Para que dela emane
A solução para todo o mais
O vento sobra forte no mar
Levanta inúmeros carneirinhos
Vistos daqui de cima
É bom o jangadeiro botar
O sinto de segurança
Também
O desenho das praias
O recorte são mensagens
Para ser lido
Por inconscientes não comprometidos
Pelo emborrachamento das sensações
Pela materialização
Cada praia vista daqui
É uma letra
Que forma uma palavra
Que apenas pode ser lida
No fundo do coração
Humano
Me sinto na escotilha
De um navio cargueiro
Viagem solitária
Tudo que vejo
É céu e água
Mas não é monótono
Respiro um ar
Que meus pulmões
Ainda não conhecem
E se abrem
Como as pupilas
Para a escuridão
O sol convida
A um mergulho na luz
Um mergulho em mim mesmo
Na vida que cada um tem
Que não conhece
Fronteiras
Cada gota do mar
Contem o globo da terra
É seu protótipo
E quando a luz a toca
E acorda nela a vida possível
Desperta a verdade
Indo para Natal
Anseio por nascer
Outra vez
Na barriga deste pássaro de metal
A gestação da consciência
Da natureza dos céus
Isto é voar
Se as turbinas parassem
Continuaríamos voando
Me liberto
Ao desmontar
O tempo
Que existe como barreira
O tempo de antes e depois
Mas o tempo duração
O tempo looongo presente
O tempo mais próximo
Do eterno
Em uma gota de segundo
Esta todo o oceano
Do tempo
Me descubro
No romper
De uma nova vida
Que reconhece os vazios
Compreende os calafrios
Do monólito da historia
Que conhece a verdade
Pelas intenções
E outros pequenos sinais
Um tempo para alem
Da causa e efeito
Da recompensa
Que não diferencia
Dar e receber
Para todos
É importante para mim
Passar pela fresta
Do espaço e do tempo
Me sinto o foco da vida
E a deixo manifestar
Aprendo com ela
Sobrevoamos um imenso rio
O velho Chico
Na sua jornada final para o mar
É um jornal fluido
Que conta como é a vida
De milhões de pessoas
Vidas que trocou a secura
Pelo dar de si
A esperança das águas
Nele se lê
A saga
Dos povos do norte
Ao afastar dele
Tudo volta a sertão
Milhões de tons alaranjados
Voltam às vidas escondidas
Na falta de viço
Na persistência da caatinga
O sol que trinca a terra
E de suas fendas
Nasce a nação dos nordestinos
Há uma teoria migratória
Que liga primitivos nordestinos
Aos aborígines australianos
Os habitantes de Piracuruca há 15 mil anos
Onde estive com Tarsila
Seriam deste povo
Que diferentemente dos índios brasileiros
Que vieram pelo Alaska
De populações da China
Os índios perseguiram os nórdicos
Que fugiram para o extremo sul
Sobraram uns ainda na Patagônia
O formato do crânio
Não é mongoleano
Como o dos índios
Não são caucaseanos
Como o dos europeus
É próprio
E como resistem à escassez
Se transplantados às férteis terras
Bem nutridos podem ser grandiosos
Penso nas Marias do Carmo
E Luizes Inácio que formam
A alma brasileira
Alma que se sabe migrante
Se sabe bom
Mas não cutuque...
Que vôo tranqüilo
Sobre a amarelada terra
Arvores pequenas
O céu vai se qualhando de nuvens
No eixo norte sul
A aproximadamente 6 mil pés
Dando daqui de cima a sensação
De um vôo orbital
Estratosférico
Um azul indefectível
Torna o céu
Em luz solar
Rios secos
São como fosseis
De passadas vidas
Pequenas cidades
E então surge
Uma grande represa, Oróz ?
Caímos lentamente
Cai no sono
Chegando a Natal
Voamos já baixo
A leste a Barreira do Inferno
O maior cajueiro do mundo
Posamos na Base Aérea
Contruida pelos americanos
Na segunda grande guerra
Lembro da foto
Roosevelt e Vargas
Num Jeep por aqui
Muitos aviões militares
Para treinamento
Já obsoletos
Agora é hora
De esticar
As pernas
Aeroporto de Natal
Tarde Quente
Aguardo Varig 2379
Falo com minha mãe
“Que você ta fazendo ai ?”
“ To indo para Manaus , mãe “
Estive algumas vezes aqui
A ultima com meu pai
Para um encontro de empresários
Ele veio como representante da Fiesp
Viemos de jatinho
Foram muitas reuniões
A parte que mais gostei
Nem precisa dizer
A ida e a volta
Foi excelente acompanha-lo
Na terra ,mas ainda
Nos céus
Moro nos últimos 5 anos
Na Rua Rio Grande do Norte, 300
Na cidade de Avaré , S.Paulo
O que faz de mim
Um Potiguar
Ao menos de coração
Vôo Varig 2379
De Natal para Fortaleza
767-300
Vôo neste enorme avião
Para um vôo
Relativamente curto
Senão pela pouca distancia
Pela impossibilidade de boas estradas
Ou apenas estradas na rota
È um wide body
Igual ao que fomos varia vezes
Todos nos para a Florida
A noite é muito mais charmoso
Fica tomado pela áurea
Dos grandes vôos internacionais
De dia
É um avião
Um lindo avião
Este está um pouco cansado
Minha poltrona não para na vertical
Como gosto para escrever
Está carregado de turistas
Vindos do sudeste
Para o Ceará
O sol escaldante
Castiga a paisagem
Não perdoa
Ficam sedentas
Até mesmo
As meninas dos olhos
Faço um vôo internacional
Aqui mesmo
No Brasil
Push back
Pelo data show vejo
Fortaleza a 433 Km
Ao lado aguardam
Dois jatos da aeronáutica
Farão a escolta ?
Começa a decolagem
Longa bem longa
Finalmente decola
Recolhe o flap ruidosamente
Curva a esquerda
Voamos pelas praias
Quantas dunas
Hotéis a beira da praia
Continua a curva sobre o mar
Atingimos 500 Km/h
2.000 metros de altitude
17 graus lá fora
Vamos para o interior
E depois
Curvaremos para o mar
Que linda tarde
As nuvens acompanham
Mais este vôo
São companheiras nas alturas
E atenuam
A exposição direta do sol
Na medida em que subimos
O corpo se sente leve
Mas fácil de respirar
O oxigênio parece sustentar
As células
Do cérebro
Meu corpo se adapta
As condições do vôo
Sinto as mudanças
É bom adaptar-se facilmente
As novas situações
Ou condições ?
É fundamental na evolução
Durante períodos longos
Mas para curtos também ?
Voamos agora sobre o mar
O litoral escrito em dunas
Em longas praias
Desabitadas
Habitadas apenas por aves
Aguardam um Holiday Inn
Salinas de Mossoró
Agora as montanhas
São de sal
Daqui parte o sal
Que é usado
Em todo pais
Homens e animais
Monogástricos e poligástricos
Todos
Com o sódio
Regulamos a água no corpo
E damos sabor às coisas
Salinas e mais salinas
5 minutos de jato
Para usar uma medida
Mais praias desertas
Areias amarelas
Levemente avermelhadas
O desembocar de um vasto rio
Largo e lento
Alcança o mar
As praias são coloridas
Douradas
Até mesmo violetas
Parecem aquelas garrafinhas de areias
Uma de cada cor
Desenhando o norte
O vento é forte
Ondas quebram
Em pleno mar
Surge uma cidade pequenina
Recuada um pouco da praia
Abrigada atrás da duna
Grandes latifúndios
Traçados com perfeição
Em retilíneas figuras
Porem vazios
De cor e vida
Apenas esmaecem
O verde do mar
Não se modifica
Em nada
O litoral se espicha
E se torna
Uma única praia
De face norte
Olhando para a linha
Do Equador
Mais dunas e rio
Uma pequena cidade
Ao longo de uma restinga
E então praias povoadas
Coqueiros e jangadas
Chegamos perto de Fortaleza
É como chegar a um oásis
Depois de atravessar o deserto
De dunas de areias
Deveriam cobrar o dobro
Dos passageiros com janela
A bombordo
Um presente do litoral cearense
São estas pequenas praias
Bem recortadinhas
Tenho vários amigos
Com o apelido Ceará
Marca inconfundível
As águas ficam mais verdes
Por serem rasas
Ficam mais semitonadas
Parece que estamos chegando ao Caribe
Esmeraldas
E iluminadas por dentro
As espumas são mais espessas
Quando se aproximam da costa
São boas para surfistas
É uma grande cidade
Varias ruas
Escorrem para a praia
Outro rio e mais outro
Ceará das águas
Curva a esquerda
Pode-se ver toda Cidade
O porto alguns navios pequenos
Muitos prédios
Iate club cheio de barcos
O aeroporto
Bem paralelo ao mar
Aproximação pelo oeste
Alinhamento na final
Como é bonito o mar
Chegamos
O avião continua pesado
Eu porem mais leve
Que lindo presente
É a natureza
Para todos
Aeroporto Bento Martins
Como outros
É base aérea também
Este belo avião
Igual ao que jogaram nas torres
Tem um final de vôo diferente
Chega a este lugar lindo
Que encantou os portugueses
Desde o século XVI
Passamos por um DC-3
Que cenário
É Fortaleza
Aeroporto de Fortaleza
Um intervalo de 80 minutos
Inspirou a um plano
E com um carro alugado
Coloquei os pés
Nas águas do mar
Quinze minutos para ir
Outros para voltar
Tinha um tempo
Para água de coco
Comprar camisetas
E sentar na frente do mar
Grandes moinhos de vento
Geram energia no cais
3 navios compõe a paisagem
Lembro deste porto
Na viagem de navio que fizemos
Toda a família
E aqui entraram em greve
Os taifeiros
Pessoal que trabalha embarcado
E foi divertido
Lembro de meu pai falando
Que teríamos que cozinhar
A oeste o sol doura a paisagem
A leste pescadores
Consertam redes de pesca
Algumas jangadas paradas
Outras balançam
Nas ondas do mar
Não me contentarei
Se não tocar
O pé no mar
E não deu outra
Quando cheguei pertinho
Veio a onda e splash
Comecei o ano novo
Apenas em fevereiro
Consagrado a Fortaleza
De espírito
De verdade
De vida
Uma tremenda musicalidade
Me fazem lembrar
Quando vim com Tarsila
E ficamos hospedes de Olandir
Onde aprendemos
O ritmo cearense
Canoa quebrada
Futuro e Aldeota
O coração do Ceara
Retornei o carro alugado
E agora espero o vôo 3892
Que deve estar chegando
Falei com minha mãe
“Mas ainda não chegou em Manaus “
“mais um pouco ... “
A bordo do Fokker
Vôo de Fortaleza
Para São Luiz do Maranhão
É noite
Este avião bem menor
Parece jato executivo
Uma certa confusão
Alguém sentado
Na poltrona 2 E
Não há outras janelas
A marcação foi liberada ou algo assim
Como faço ?
Por sorte encontrei este moço
Que me cedeu seu lugar
Onde sento agora
Voando a noite
Com um pouco de sorte
Ouvirei o canto de Peri
Responderei ao assobio de Iara
Contarei as estrelas
Alimentarei a alma
Push back
Passam luzinha azuis
Agora vamos
Posição 3 e decolar
O sonho do comandante Rolim
Saindo do chão
É silencioso o danadinho
E como sobe forte
Anseio pela altura
A lua aponta no leste
Redonda e linda
Será a companheira
O vôo é curto
Curto o vôo
Mesmo assim
Comer um sanduichinho
Como cai bem
Me entrego ao conforto
Imagino cruzando o escuro
Como se fosse
Um feixe de luz
O tempo quase pararia
E meu corpo toda matéria
Viraria luz
Fecho os olhos
E ao abri-los
Estamos descendo
Próximos ao aeroporto
De São Luiz
Luzinhas estão perto
Curta final e toque
Puxa que rápido
Que avião silencioso
Aeroporto de São Luiz
Noite quente e abafada
Cadê o vento
Aguardo o vôo 3892
Continuação
Mais 20 minutos
Aqui moraram Laura e Marcel
Meu amigo de infância
Aqui fizeram à vida
Ele dirigia uma empresa da Shell
Que trabalha com alumínio
Quantas historias me contou
Só de respirar este ar
Sinto o abafamento
Que o fez partir
Muita política
“Brasileiras e Brasileiros “
Não foi fácil
Lembro-me quando estive
Com Tarsila por aqui
E conhecemos Clorís
Era uma artista carioca
Que viajava com teatro de marionetes
Fomos ao show
E ela inventou de dar nossos nomes
Aos personagens
No show daquela noite
Depois fomos jantar
E senti pela primeira vez
Uma dor de fazer desmaiar
Era no estomago
No começo gelado
Depois ia esquentando
E não tinha depois
Tinha que sentar no chão
E respirar
Nunca soube o que foi
Só tive aqui
Em no Maranhão
A bordo do Fokker
De São Luis
Para Belém do Pará
Viajo para visitar um amigo
Que há quase 20 anos
Não vou lá
Esta viagem é um processo
De aproximação
Pelo caminho mais longo
Venho conversar
Costurar velhos rasgos
Com linha nova
Venho escutar
E de certa forma
Conhece-lo de novo
Não ficaremos na memória
Falaremos dos planos
De construir barcos
Falaremos dos filhos
Do que aprendemos
Do que falta ainda
E passearemos no rio
Que insiste em ter
Complexo de mar
Um amigão
Do mesmo tempo
Do que viveu em São Luiz
Fazíamos um grupinho
Que jogava futebol de mesa
Todo domingo por 10 anos
Estamos prontos para decolar
E pronto, já percebi
Este piloto é rapidinho
As nuvens que vejo ao longe
Estão no hemisfério norte
As constelações estão inclinadas
O cruzeiro do sul quase deitado
Voamos para o estado do Pará
Uma flecha na Amazônia
O assassinato da freira
Há poucos dias
Colocou o Pará nas manchetes
Tantos outros assassinatos
De gente menos celebre
Passaram incólumes
Aqui é o Norte
Vejo passarem umas ilhas
Ou rios na escuridão
Me esforço mas vejo
Apenas à noite
Passar pela janela
Fecho os olhos
Deixo as pálpebras caírem
Mergulho em mim mesmo
Lembro do teatro que fui ontem
Ainda em Avaré
Por total acaso
Uma peca pantomima
De um casal
Vindos de São Paulo
Fomos jantar no fim da peça
E aproveitamos
Para papear
Descobri tantas coisas
Um potencial de relacionamento
Que vem do novo
Falamos diretamente
As coisas mais profundas
Com naturalidade
Venci o julgamento inicial
Feito pelas aparências
Auto defesa e critica
Ao final
Aceitei o presente
De ser criticado
Me senti nu
Vestido apenas de matéria
A mercê do gesto
Acho que vi passar
O mercado de ver o peso
Estamos chegando a Belém
O pouso a noite aqui
É um espetáculo
Uma ilha toda iluminada
Depois outra
Cheia de casas
Por fim outra ilha
Esta no continente
Onde estamos prestes
A pousar
Curta final
Toque
Reversão da turbina
É com muita alegria
Como disse o jogador de futebol
Estar onde Jesus nasceu
Belém
Aeroporto de Belém
Aguardando o vôo
Tam 3892
Noite quente na Amazônia
A chuva da tarde
Aplacaram os ventos da noite
O ar úmido e quente
Cria uma sensação
De verão na praia
Estive em Belém há muitos anos
E com meus pais
Fizemos um passeio de carro
Foi quando uma manga
Daquelas de pra lá de kilo
Se soltou caindo no capo
Foi impressionante
E a manga estava
Incrivelmente doce
A bordo do vôo Tam 3892
De Belém
Para Manaus
Só mais este vôo
Me separa de chegar
Ao encontro com o amigo
Duas horas voando a floresta
Como um pássaro noturno
Em vôo continuo
Push back
Bem antigo é o aeroporto
E também Base Aérea
Daqui decolavam os Catalina
Hidroaviões da aeronáutica
Que voavam todo amazonas
Pronto para decolagem
Encher a mão
E correr a pista
No ar
Curva a esquerda
A lua cheia quase a pino
Uma noite de muitas nuvens
Porem é possível ver ao norte
Um imenso de um rio
Um mar de águas escuras
Se distingue unicamente
Por um brilho que emana
É imenso
O rio Amazonas
Na fase final
A ilha de Marajó
Faz as sombras
Do lado leste
A pororoca ao norte
Não posso ver
Apenas sentir
Traz para o mar
Os segredos acumulados
Desde os Andes
Vem trazendo
Um continente
De água
Será este o estreito de breve
Com vinte e poucos kilometros de largura
Senão aqui certamente terá mais
É de arrepiar
Quando por instantes
Reflete a luz da cheia lua
De vontade de pular de para quedas
E mergulhar
Em suas corredeiras
Este mergulho
Fica por hora
Prometido
Jantei um ultimo sanduíche
São meia noite e meia
Porem aqui é uma hora a menos
Volta a ser ontem
Estamos nos aproximando
Da cidade de Manaus
Uma ilha boiando
No meio do escuro
Uma estação interplanetária
Um porto
Um aeroporto
Uma chegada
Que linda cidade
Vista daqui
Como vai longe
Vamos alinhar a reta final
Estamos quase
Tocou
Reversão
Minha ultima reversão
Do dia
Agora reverto em saudade
Em abraços
Em bate papos
A bordo do Izilda
Boiando
Num igarapé do Rio Negro
A tarde caiu
Enquanto chegávamos
A outra margem
Uma viagem
Deixando a cidade
Se dirigindo a floresta
E subindo um afluente
Que se bifurca em outros dois
E mais dois
Até chegar aqui
Um lugar perdido
Um grande achado
Amazing Amazon
Planeta de água
Superfície liquida
Da Terra
Superlativo de água
Superlativo de rio
É Amazônico
Muita, muita água
Correntezas o tornam
Inteiramente vivo
Gesta a vida
De aves e peixes
Plantas e outros seres
Ao mesmo tempo
Que devora suas encostas
Querendo engolir tudo
É rio
Mas se pensa
Mar
Tem marés
Vazante e cheia
Tem sereias
Nas areias
Se escrevem
Cidades
É em si
A maior frase hídrica
Do mundo
É largo
É fundo
É rápido
É limpo
É negro
É verde
Tão verde
Quanto a floresta
Que toca
Tão volumoso
Não se economiza
Em movimentos
Desce as cordilheiras
Escorre em geleiras
Guarda a memória da neve
E vindo de leve
Vem conhecer
Planícies brasileiras
Caminha para o leste
Busca o clarão
Da manha
Se revestindo do escuro da noite
Se faz Solimões
Se Faz Negro
Rompe o silencio da natureza
Se alastra
Não se contem
Ate chegar aqui
De onde Manaus vê
O encontro das águas
Umas quentes e lentas
Outras frias e rápidas
Se fundem num só rio
O Negro rio
É um chá de floresta
Uma tintura medicinal
Remédio
Para quem se pensa pequeno
Três gotas duas vezes ao dia
Negro rio
Rio vivo
Rio jovem
Amá-lo
É ajudar
Em sua identidade
E subitamente percebo
Que também
A minha
O encontro de nossas águas
Alimenta o rio
De minha vida
Ancoras
Jogamos ancoras
Para passar a noite
Num braço escuro
Na noite escura
Do Negro rio
O endereço 3graus
De latitude sul
Quase alinhado com o Equador
Ancora de popa também
Só para o caso
De um vento
Então o mergulho
Nas aminióticas águas
Receber toda energia
Era à tardinha
Me dissolvia
Efervescente
Junto estavam
A família do amigo
De quarenta anos
Quantas conversas
Para por em dia
Falhas e filhos em folha
E na releitura
Encontrar a graça
Desta vida
Mais um mergulho
E o inconsciente
É que vem a tona
O corpo bóia
Com muita facilidade
Suspenso
Nadei até um flutuante
Uma casa abandonada
E voltei
Ao subir a bordo
O cheiro inconfundível
Do bom tostex
E depois da janta
O que nutria
Era a conversa
Escutar é garantir ao outro
A oportunidade
De se manter novo
Se saber depositário
Das verdades
Do outro
Antes de dormir
Mais um mergulho
Já sob a lua
Como forma de agradecimento
Pela gentileza
Da vida
Como foi no Mississipi
Em águas
Bem mais frias
Deposito-me mais uma vez
Com toda confiança
No rio da vida
Respirei com invisíveis guelras
Respirei fundo
A vida
Ouvi a voz dos meus
No rechuar
Das águas
Deitado ali
Boiando
Era a humanidade
Pulsava em mim
O coração
Apenas humano
Os ruídos da floresta
Compunham
A sinfonia de estrelas
E o silencio negro dos céus
Com o negro das águas
Faziam um dialogo de luz
Ali era
A testemunha
Da transmutação do universo
Como tão fecundo
Pode ser o encontro
Do Céu com a Terra
Já enrolado na toalha
Evitando ruídos
Me senti inundado
Era uma noite imensa
Não cabia ela
No tempo
Flutuava a memória mineral
Do silencioso rio
Em brilho sideral
E nas margens do igarapé
Sentir o abraço quente
Da mata
A lua se mostrava toda
Em seu
Quarto inteiro
Por reflexos
É que se conhece algo
Pelo seu lado inteiro
E houve uma festa
Quando as pálpebras caíram
Ao som do silencio
Ali flutuando estão
O barco, a terra
E o firmamento
Sem divisões
Apenas sob formas
Diferentes
Pelos sonhos
Passei pela porta
Para o lado de lá
O universo sem palavras
Palavras sem versos
Versos sem rima
O entendimento que há
Para alem
Do eu
A química anterior
As manifestações
Da biologia
Nos devolve a espaços
Anteriormente ocupados
Apenas por rumores
O convite da compreensão
Unívoca e ampla
Proporcional a sede
E então nascer uma vez mais
Não para algo
Mas de algo
Encontrar os verdadeiros pais
No que nunca pode ser separado
Sem antes nem depois
Um encontro amazônico
Aquele que o céu faz na terra
No coração humano
Noite de 28 de Fevereiro
A bordo do Vôo 1783
De Manaus para Rio Branco
28 de fevereiro , 23:50
Se esse ano fosse bissexto
Estaria entrando no 29
Sem escalas
Estou indo
Direto para o mês de março
Na minha mala
Levo Nikes e Barbies
E uma aliança
Meu coração saudoso
Aguarda por encontrar
Os meus
A estadia em Manaus
Valeu
Cada minuto
O encontro com o amigo
E com as águas
Do rio
Push back
Começa mais um vôo
Sobre a floresta
Noite quente
E no entanto
Relampejante
Um vôo às escuras
Entre as camadas térmicas
Da região norte
Decolamos
737 -700 potente
Viaja cheio
Não sei quantas horas
Permaneci em Manaus
Sei que quase todas acordado
Na janela
Todos os gatos são pardos
Todos os rios são negros
Vou dar uma descansadinha
Estamos chegando em Rio Branco
Capital do Acre
Em Rio Branco
A noite é mais quente
E não há vento
O modesto aeroporto
Não esconde o quanto
Ainda há por crescer
Estou no ponto
Mais setentrional que estive
No Brasil
Aqui são duas horas a menos
Que o fuso de Brasília
O principal
O Acre não foi conquistado
Não houveram bandeirantes
Nem Duques de Caxias
É o único estado do Brasil
Que optou fazer parte dele
Destacou-se da Bolívia
E virou território
No tempo que geografia
Era uma matéria chata
Hoje é a saída principal
Para o Pacifico
Um corredor para o Oriente
Em cinco horas de estrada
Chega-se ao Peru
Depois é só cruzar os Andes
Com 280 mil pessoas
Onde todo acre
São 400 mil
Rio Branco é muito provinciana
São as mesmas famílias
Que habitam há muito tempo
Se fala arrastado o idioma
Dos brasileiros
E dos povos das florestas
Pena ficar aqui tão pouco
Só um cheiro
Fica a vontade de voltar
A bordo do 1783
Saindo de Rio Branco
Destino Porto Velho
Saída sem push back
Fez curvinha
E saiu para frente
Coisa rara
Nos dirigimos para a cabeceira
Todo é escuro
Me mantenho
No limite de acordado
Escrevo como se fossem sonhos
Há uma grande paz
Nada a fazer
Sobre o que não posso mudar
Começa a decolagem
Desenfreada pela pista
Até subirmos
É um vôo panorâmico
Sobre Rio Branco
Um mar de luzinhas
Depois fica tudo escuro
Estamos chegando
A Porto Velho
Nem comi nada
Acho que esta rota
Dá muito sono
Chegamos a Capital
Do estado de Rondônia
Paramos
O aeroporto é modesto
Ficamos longe
E não tem ônibus
Entra uma mulher
Do controle sanitário
Fazer inspeção
Me lembro certa vez
Voltando da África com minha irmã
Vôo da Tunísia para Itália
Um velho Caravelle
Sem ar condicionado no solo
Quando entrou a policia sanitária
Tiraram umas bombas de flit
Com um veneno brabo
E esborrifaram em cima da gente
Esta de Porto velho pelo menos
Só perguntou sobre dengue
Malaria e custo de vida
As coisas que mais matam
Por essa região
Também amazônica
Porto Velho é Cosmopolita
Tem Sivam para cuidar
Do setor oeste amazônico
À noite os bares ficam abertos
Até bem tarde
Tem faculdades e muitos jovens
Para cá são atraídos
Os que granjeiam
Alguma coisa a mais
Vôo 1783
De Porto Velho
Para Brasília
Nossa agora que vi
Como é pequeno
Este aeroporto
Por isso a reversão foi tão tuchada
Pois decolou rapidinho
E em seguida acabou a pista
Poderia se chamar
AeroPorto Velho
E escuro também
Este vôo estimado de duas horas
30 minutos de Amazônia
90 minutos de serrado
Vou colocar o tapa ouvidos
E os tapa olhos
Não enxergo nada mesmo
Boa noite
Aeroporto de Brasília
Preciso fazer a barba
E começar o dia
Com cara nova
Como esta bonito
O novo Terminal
Que bela reforma
Caminho para acordar
Enquanto faço tempo
Do próximo vôo
É uma manha úmida
Todos os vidros
Estão molhados
As nuvens baixas e cinzas
Dão um toque soturno
Ao planalto central
Acordei em Brasília
Antes mesmo
Do presidente
Ele ainda deve estar dormindo
Enquanto vou procurar
Uma cafeteria
Brasília é capital nacional
De varias nações
De vários brasis
Políticos abundantes
Em todas as esferas
Do poder publico
Me contaram que aqui no aeroporto
Um político vem correndo
Tomar um avião lotado
A atendente diz que terá que esperar
Foi quando ele disparou
“Você sabe quem sou eu, sabe ?“
Ela calmamente pega o microfone e diz
“ Tenho aqui na minha frente um senhor
que não sabe quem é, alguém pode ajudar ?”
Brilhante.
Ponho-me a pensar
Se sei realmente
Quem sou
Desconforto
Ao caminhar agora pouco
Senti a gota gelada
Do meu infinito desconforto
Tenho guardado na alma
Tantas passagens
Que engoli sem mastigar
Sinto o peso que carrego
Por não ter digerido
Cada coisa a seu tempo
O que carrega este tempo
De coisas de um outro eu
O eu não pude ser
Lembrei-me do aluguel de motos
Que tinha em frente
A casa do amigo de Manaus
Ele me contou ser a fachada
De uma entrega de droga
Que estava lá e não víamos
Lembro daquelas moças
Que freqüentavam o barzinho ao lado
Eram as deliverys
Ao relembrar tive um calafrio brabo
Como se alguma informação
Quisesse pular do passado
Eu nunca dei muita importância ao fato
Mas de repente o sentia
Ser palpitante
Deixo que venham do passado as imagens
Como eram na época
Lembro de uma mesa de snooker
Lembro que escutei
Que as tais moças
Faziam sexo sobre ela
Este era o fio cortante
Mulheres fáceis
Talvez eu tenha sentido atração
Mas ficou guardado
Num mundo paralelo
Onde talvez
Eu tenha vivido
Alienadamente
Que tempero trazia sexo
Lascidão e depravação
Mulheres que davam mole
Tranquei algo
Que me colocaria para sempre
Na infância afetiva
A dimensão do sexo
Foi um chip implantado
Não amadurecido
Caminhei por um caminho
Mais preocupado
Em desviar dos limites
Criei um atalho
Que se caísse nele
Me daria ao mesmo daqueles
E impressionado me vejo
Ainda suando frio
Como naqueles dias da infância
Venho de lá para cá
Apenas colecionando
Mais horrores
Mulheres que traem
Mulheres vulgares
Engolidoras de esperma
Em mim aflora o menino
Que precisa imensamente
Ser compreendido
Socorro socorro
Onde é que eu vim parar
Quem vai me explicar
Que amores e transas
Estão atrelados
A um senso de perdas
Que adultos são apenas
Carapaças colocadas
Sobre pessoas pequenas
Que se crescer
Invariavelmente
Serei leviano também
Escondi as marcas
De minhas duvidas
No meio das minhas coxas
Carreguei toda porcaria do mundo
Como um terceiro testículo
Por toda minha vida
Vejo que chamei de meu jeito
Pessoal de ver as coisas
O estar de olhos fechados
Quero na relação de casal
Um relacionamento meio pasteurizado
No andar superior de minhas feridas
Não sei agir de frente
Sou emocionalmente imaturo
Busco qualquer remendo para a alma
Me coloco num mundo inferior
De sentimentos comportados
Reprimidos e controlados
Aparente um Gene Kelly
Um Fred Astaire
Comportado
Mas por dentro
Há em mim um lobo
Louco para sair das grades
Quando aflora
Modifica a forma de ver
Todas as coisas
Não poupa ninguém
Não poupa toda imaginação
Não economiza perdições sexuais
Ninguém escapa
Apenas aqueles
100 % castos
Aqui percebo
A infestação de contagiosa
Das bactérias religiosas
Me encolhi no sexo
Encolhi meu sexo
Me fiz meio corcunda
E acordo num antro
Onde tudo é malicia
Tudo vulgaridade
Alguém me ferrou
E eu não paro
De ferrar todo mundo
O que posso fazer
Com essa repulsa
De toda essa vulgaridade
Não passo para a próxima fase
E vou me perpetuando
Em um crianção em mim
Tenho um puta medo
De gente grande
A decepção é certeira
Na minha imaturidade
Me fiz especialista
Em lidar com coisas mortas
Como nascer algo novo
Se me sinto morto
No mais central de meu ser
Um infante que insiste em reinar
Em ocupar o centro
Do palco da vida
Não consigo colocar ninguém comigo
A não ser
Em meus arredores
Não sei como viver no Brasil
Com tanta ginga e malicia
Melhor seria se fosse europeu
Lá estaria desapercebido
Entro tantos outro
Mortos
Como me relacionar
Com pessoas quentes
Sem ser um esfriador
Não seria difícil
Ser celibatário
Já era meio eunuco
Como seria fácil pintar o mundo
Em cores religiosas
Para disfarçar meu mundo infantil
Ao ver homem e mulher
De qualquer naipe
Malicio
Gelo o sangue nas veias
Ao imaginar minha mulher contente e feliz
Apenas conversando com outro homem
Tranquei-lhe a porta da saída
Quando quis um emprego no Sebrae
Onde teria que viajar com outros caras
E me morreria de ciúmes
Me imaginaria sendo traído
Como foram aquelas mulheres
Um desconforto exclusivo meu
Que sempre quero
Depositar na conta do outro
Tenho filhos crescendo
Que estarão restritos
A minha pouca estatura
Quem eu sou realmente
Um crianção sem acesso
A razão adulta das coisas
Não sei ver sexo
Sem que seja
Uma forma de espoliação
Não vejo sexo
Sem que seja
Sacanagem
Não tenho idéia
Do que possa ser
Um relacionamento maduro
E sofro todo o tempo
Em ser um dolorido atleta
Sempre querendo não aceitar
Aceito os anos perdidos
A volubilidade dos meus atos
Em ser um crianção
Que abafa com toda força
Um monstro sexual que me devora
Aceito olhar nos olhos
De meu monstro
Sem me entregar ou mata-lo
Aceito que tenho vivido ultimamente
Me coloca muitas vezes
Em situações limites
Aceito que não tenho software
Para lidar com qualquer coisa
Rotineira no dia a dia
Reconheço que coloco sempre
Os outros na condição
De fornecedores para mim
Como um menino mimado
Espero que todos
Tragam conforto para mim
Me coloco o tempo todo
No centro do mundo
Onde todos me gravitam
Vivo uma vida insípida
Inodora e sem graça
Sou um títere de meus medos
Não seu ver uma mulher
De 8 a 80
Não sei me relacionar
Cada mulher é uma passagem
Para um universo
Dos prazeres
Então foi fácil ser empresário
Mais ainda empreendedor
Tudo que não precisasse amadurecer
Pois no caldão da aridez
Pode se esconder
Um homem pela metade
Sou infantil
Quando lido com dinheiro
Sou carente de brinquedos
Não recebi um sinal de suficiente
Não desenvolvi
Sou um saco sem fundo de brinquedos
Na química do relacionamento
Meus atributos
São muito poucos
Preciso ser amado
Como condição primeira
Para o relacionamento
Sempre atraio para mim
Também pessoas
Vitimas de infantilidade
Eu sou
Preso nisso
Desde que nasci
Não conheço uma forma de viver
Que não seja construída
Sobre o prazer
Fui posicionado
Como um Minute man
Dos prazeres da vida
Não conheço a duração
Do relacionamento
Sem quebras
Precisaria nascer de novo
E despertar em mim
As sementes de adulto
Estou chegando a BH
São quase 10 da manha
Estou pegando fogo
Quanto ainda há
Que me aproximar
De minhas nascentes
Para que outros
Possam conhecer
Os meus rios
Assim como
O Mississipi
E o Negro
Hoje sou eu quem
Passo sede e fome
Coxo vísceras
Hoje preciso de calma
Muita calma
Nessa hora
Hoje mais consciente
Das misérias acumuladas
E presente
São os meus horrores
Que tem gosto e cheiro
Do aluguel de motos
Volto desta viagem
Com uma ferramenta nova
A de desarmar bombas
Pampulha
Daqui a pouco
Estarei em casa
Não sei onde e quando
Me sentirei
Em casa
Sendo que sofro
Por tanto tempo
Tantos percalços
Neste instante
Enquanto abandonávamos o avião
Pela radio tocou :
” Procuro um amor
Que seja bom
Para mim
Eu vou tratá-la bem
Para que não tenha medo
Ao conhecer os meus segredos
Um amor
Uma razão para viver
As feridas de vida esquecer
Pode ser que eu gagueje
E as palavras não saiam
Mas não saio de lá sem ele “
Colégio quadradão
Venho ao colégio de Thales
Venho negociar um armistício
Entre ele e seu orientador
Um precisa sonhar menos
Outro mais
Senti o corpo esquisito
Na quarta feira
Acordei mal na quinta
Tinha febre
E o corpo
Não vibrava com nada
Manha chuvosa
De quinta feira
3 de março de 05
Vim conhecer a escola
De musica
Das crianças
Ouvi tudo
Prestei atenção
Não entrou em mim
Sinto desde a primeira hora
Um centro que fervilha
No cérebro
Sinto dor, muita dor
E uma letargia
Em tudo que faço
Recebo tudo
Como um presente
Para a pessoa ao lado
Sinto na região da hipófise
Uma pressão
Uma dor
Tenho trabalhado muito
Este centro
E abordado francamente
Se existe alguma caixa preta
Ela deve estar
Muito mexida
Pois depois de tantos anos
Enfiei a mão lá dentro
E senti tanta sujeira
Tenho o meio do cérebro pesado
Criando uma dimensão
Dolorida
Não lembro de ter dormido
Tão profundamente
Nem tão pesado ao acordar
Com sonhos toa vivos
E realísticos
Deixa ver
Durante a noite
Uma onda
Esfriou o corpo
E pedi o abraço da companheira
Que me aquecesse
As costas
Era uma abertura
Era um facho de luz
Que saia do centro
Tinha a possibilidade
De fazer download
Nas estrelas
O corpo vivera há poucos instantes
A sensação de movimento
Mesmo quando parado
Tinha encontrado na companheira
A conexão de corpo
Com o cosmos
E de lá fui tragado
A partir
Do centro
Mesmo agora
Horas depois de acordado
Sinto a respiração ofegante
Quero desmanchar
Todos os nódulos
Adquiridos com o tempo
Lembro de ter ontem
Sentido varias vezes
O foco de estar feliz
Assim como uma tristeza
Pode gerar uma onda
Entristecedora
Estar feliz também
Poe tudo na vibração
Do estar bem
Me entrego a vida
A esta onda infinita
De bem de crescimento
Aceito as restrições acumuladas
Por tantas marcas
Ao longo do tempo
Tomo o menino de 10 anos
Que ficou preso no tempo
Para cuidar
E descondicionar
A formatação
Das sensações
E assim devolve-lo ao tempo
Para que possa agora
Superar aquele padrão
Foram tantas fincadas na alma
Tantas geladas
Tanto encolhimento
Tanto sofrimento
Até aqui
Acumulado
Quero soltar
E deixar sair
O equilíbrio da vida
Que possa redirecionar
Tantas restrições
Para o universo
Ao mesmo tempo
Que desperta em mim
Um homem novo
Menos sei sobre mim
Menos impetuoso
Menos automático
Sou apenas
Um elo de união
Entre céu e terra
Preciso de uma arvore
Como diria
Budha
Chegando em casa
Cai na cama ao meiodia
Levantei as 8 da manha
Do segundo dia
Na primeira tarde tremia
Sonhava com um ponto
No centro da cabeça
Por ele descia
Num elevador emblemático
Aos recônditos da alma
Passava pelos comentários
De todas as pessoas
A meu respeito
Os escutava
Com o som
De suas próprias bocas
Estão todos lá
E um pouco mais abaixo
Os meus comentários sobre elas
Minhas rajadas
Minhas farpas disparadas
Todas lá
Precisava descer mais
Ate o fim do poço
Ali havia silencio
O que não fora dito
Nem de mim
Nem dos outros
Como se todos que conheço
Compusessem
O que sou
Nesse momento veio uma luz azul
Mas ficava fora do fosso
Fora do corpo
Sua química estava dentro
Mas sua manifestação
Fora
Lembrei da teoria dos tubos
E super tubos
Do neo córtex
Senti a luz azul
Poderia aliviar
A pressão na cabeça
Mas teria que perdoar
Pois o perdão
Trazia consigo a força do espírito
Então comecei a subir aquele fosso
E perdoava as situações
Que me irritavam profundamente
E fui me silenciando
Até sair
Para o nível acima
Onde todos falavam e gritava
Bravatas contra mim
E os meus
Percebi que tinha que
Me conectar aos meus
E limpar tudo de todos
Então o perdão entrou
E foi limpando cada um
Dos meus queridos
Ao subir
Depois da faxina geral
Não senti mais dor
Somente a febre
E os tremores
Que sacudiam o corpo
Sabia estar doente
De corpo e de alma
Sem saber de qual primeiro
Dispensava
Por um buraco na cama
Até os andares mais baixos
Algum vírus
Ou bactéria
Me pegou
E me derrubou na cama
Me sentia feliz
Por estar próximo dos meus
Mas não me sentia em casa
Não comigo mesmo
Não com tanta dor
No sábado veio o medico
E pediu
Uma avaliação neurológica
O que fizemos no domingo
Quando fomos ao Hospital
Para realizá-la
Não deu nada
Mas também
Não se soube o que era
Caí na cama
E só levantei
Para a festa
Era aniversario de Larissa
Oito anos
Jantar na pizzaria
Estava moído
Não tinha animo
Para nada
A comida era de borracha
Todas as coisas
Estavam num plástico
Mesmo estando perto
Estava a kilometros
De tudo
Durante a tarde de sábado
Escrevi sonolento
Tomando contato
Com meus horrores
Os acumulo desde pequeno
Indisfarsavelmente
Tinha uma verdadeira histeria
Ao pensar que meu pau morreria
Lembro-me de um sonho
Onde estávamos juntos no apartamento
Ainda em construção
E a parede da área de serviço
Ainda não tinha sido construída
Por ali chegava o elevador de carga
Ele se aproximou
E escorregou em algo
E caio
Fui correndo a ele
E o vi
Diminuindo conforme caia
Tive esse pesadelo
Nem sei quantas vezes
Quando criança
Meu coração disparava
Feito a bateria
De Padre Miguel
Quando ele morreu
Em julho de 1989
Foi o mais difícil para mim
Tinha todos sentimentos
Mesmo que fossem
Contraditórios
No ápice da tristeza
Me sentia livre
Me sentia pronto para começar
Me sentia exposto
Vulnerável demais
Sem estrutura
Sobrevivi estes anos
Mudei minha vida
Sob varias formas
Agora me dou conta
Do imenso desconforto
Que esta minha vida
Não vivo nem lá nem cá
Na empresa fui estacionado
Sem poder de decisão
Na família fui expatriado
Quando estou com eles
Não tenho profissão
A não ser escrever
Ler ou adoecer
Como faço agora
Tenho uma lista de horrores
Tenho medo de ser traído
Atingido por mentiras
Estes dois últimos dias
Passei de cama
Não sei o que tenho
Uma dor de cabeça
Bem no centro
Fortíssima
O corpo sem vontade
De qualquer movimento
Espera dormir
E durante o sono
Calafrios me sacodem
Pernas e peito
A respiração com sussurros
Ganhei dores nos ombros
Nos músculos da perna
Não conseguia
Me manter
Acordado
Hoje Larissa faz 8 anos
7 de marco
De 2005
É diferente
De todas crianças
Que conheço
Seus cabelos
Tem a tonalidade
Dos meus
Sua pele branquinha
Se confunde
Com alguma fraqueza
Seu olhar penetrante
Sua atitude definida
A fazem quase um adulto
Se não se derramasse em Barbies
E jogos com a irmã
Onde parecem criancinhas
Hoje sai a ultima filha
Da casa dos sete anos
Esta fase se foi
Agora se concentram
Na fase seguinte
Das descobertas
Quero que este ser
Conheça o mais alto
Dos céus
Com toda a alegria
E espontaneidade
Possíveis
Me sinto fraco
Mas nisso encontro
A sua força
Me alimento
Depois de quatro dias
Com os teus sorrisos
Ao vê-la tão feliz
Correndo com as amigas e amigos
No play ground do restaurante
Vejo que um aniversário por ano
Para Larissa
É muito pouco
Quero me comprometer
Com o seu sorriso
Com a sua alegria
Dar
Toda matéria prima
Do riso
Ensina-la a se entender
E não cobrar muito
De si
Chegamos em casa
E na manha seguinte
As 5:00 parti
Pampulha
8 de marco de 2005
Vôo das 6 da manha para o Rio
Apesar de cedinho
Este vôo
Está bem cheio
Voaremos para o sul
Sobre Petrópolis
Então faremos a final
As nuvens cobrem todas montanhas
Um país acorda
Lá em baixo
Estou mole
Não tenho vontade
De escrever
Aeroporto do Galeão
Do Rio de Janeiro
Para Campinas
Parto as 10:30
Para chegar as 11:30
Para almoçar com o amigo
Lá espera o motorista
Sento na janela 2 A
O sol esta forte
Decolamos sobre uma baia
Cheia de barcos
Que não são barcos
Curva a esquerda
E vamos passear
Sobre o mar
Lindas praias cariocas
Pão de açúcar
Leme, Copacabana
Vindo para o sul
Ipanema, Leblon
Barra da Tijuca
Que lindas praias
Até me animo
Um pouco mais
Chegamos perto de Ubatuba
Que delicia
Me sinto em casa
Aqui entra para o continente
Na proa direta de Campinas
Começamos a baixar
Estamos chegando
Ainda estou mole
Vou cancelar o almoço
Vim direto para Avaré
Desci no consultório de Pim
Ótimo pediatra neo natal
Sendo assim
Pode acertar bem
Comigo
É amigo de inúmeras vezes
É vizinho
É meu amigo
“Pim me cura “
“Deita ai
Que eu vou te examinar”
Entrei no antibiótico
16 dias
Duas vezes ao dia
Fiquei mais 3 dias de cama
Só que desta vez
Sozinho
Não foi fácil não
Esperar o sábado
Para voltar para casa
Campinas
12 de Março
Viracopos Pampulha
Este é o ultimo vôo
De Campinas a Pampulha
Depois todos para Confins
Por motivos políticos
Isto gera um grande
Incomodo
Amanheci na Pompéia
Tomei café com a Neca
E parti
Cheguei adiantado em Campinas
Por isso me dou
Este dedo de prosa
Estou saindo da maior doença
Que já tive
E nem sei o que foi
Febre alta
Desanimo e baixa
Vontade de virar pedra
Um equivalente próximo
Do louco de pedra
Doente de pedra
A vontade de ser imóvel
Paralisado e paralisante
De tudo ao redor
Um pequeno cochilo
Pode demorar hora
Perigo sentar confortável
Dormi na fila de espera
Dos exames de sangue
E da radiografia da cabeça
Fome nada
Passeio nada
Nem luz
A visão de dentro
A de um túnel
Longe da saída
Mas estou saindo
Tenho manchas vermelhas
Em várias partes do corpo
Há dois dias
Minhas mãos pareciam crostas
Vermelhas e duram
Ontem parecia que explodiriam
Ainda hoje
O anel não entra
Saindo da crise do corpo
Tenho a chance
De sair das outras também
Quero entender meus processos
Quero curar a ferida
Central da minha vida
Aquela que me mantém menino
Aquela que me faz carente
Aquela que me zera
Preciso me entender
E me colocar
Fora do eixo da dor
Vivo um tremendo desconforto
Que só complica
Minha ferida central
Sinto uma tremenda solidão
Um imenso descaso de alguém
Mais fechamento em mim
Sofro a distancia dos meus
Numa vontade imensa
De ser a família que sonhara
Desassistido por quem
Nunca saiu da crise de identidade
E não se sabe interveniente
Que se arrasta por migalhas
E não sabe sentar-se a mesa
Do banquete da vida
Não nutre a chama
Focada em si se espreme
Num manequim de menina
Nas mesmas dificuldades
Construímos uma ponte
Entre nossas misérias
Percebo que encaixamos
Por termos interiormente
As mesmas fraturas
Me distraí em criticas
Entre suas crueldades e mazelas
Não encarei o foco da questão
Nisso eu a alimento
Por quanto não foco
A origem da minha dor
Crescemos a sombra
De nossos pais
Em olhos exteriores
Fomos educados para fora
Aceitamos sistematicamente
Camadas de verniz
Cedemos ao vácuo do outro
Ao árduo trabalho
De constituir-se motor
Me distrai em seus encantos
Enquanto deixo pulular em mim
O isolamento e a secura da alma
No meio de minha vida
Existe um buraco
Que a todo tempo me consome
Chupa minhas energias
Me coloca como refém
De mim mesmo
Tenho duvidas constantes
Sobre como
Viver a vida
Minhas metas
Não perpassam
Ao bem estar dos meus
Não sou um bom gestor de mim
Dos imensos recursos disponíveis
Dos bens que compartilho
Não vivo proporcionalmente
Ao milagre
Que me trouxe a vida
Não faço jus ao premio
Que me deu
A indimensionavel loteria genética
Minha matéria esteve presente
Desde o principio do mundo
Sobre outra forma e gravidade
Meus átomos carregam a arquitetura
A mesma
Que está em todo universo
Quanto o universo se torceu
Para se colocar
Na forma que me apresento
Como me deixei descuidado
Na inanição psíquica
Na UTI do descaso
Vivo a expressão mínima
Do relacionamento afetivo
Respiro por uns canudinhos
Se fosse definir para mim
O que mais preciso
Começaria pelo ar
Brisa
Vento
Ventania
Ou pela água
Rio ou represa
Mar
Sal
Sol
E flutuar
Começaria pelo afeto
Com o ser humano
Predileto
Começaria sendo fácil
Para os meus
Sendo presença
Ajudaria-os a se entenderem
E a beber
De suas próprias águas
Começaria por voltar a sonhar
Sonhos
Deliciosos
Sem me deixar consumir
Pela secura
Das coisas mal resolvidas
Se pelo menos me desse uma coisa
Teria um ponto
Para começar
Minha comida é sem sabor
O que bebo é sem gosto
Minha dinâmica também
Estou lá e cá
Insuportavelmente viajando
Estou em nenhum lugar
Quando saio de BH
Encontro o sofrimento
Da distancia e do descaso
Quando volto
Cambaleante de saudade
Entro num programa que não tolero
Cursos, aulas todo sábado
Casamentos que não sou convidado
Visitas que não acompanho
Há muito tempo
Que sinto
Que ninguém vive para mim
Sem apoio
Faço
A agenda de subsistência
Conversas viram monólogos
Que recrudescem
Ainda mais a dureza
Escuto argumentos levianos
Que não refletem nem de longe
A profundidade da questão
Pondero a possibilidade
De um dia
Haver paz
O que preciso
Esta muito alem
Ao que o corpo pode dar
Mais abaixo
De onde chegam
As negociações
Mais acima
Onde se limita
O pensamento lógico
Mais adentro
Do gênero
Masculino feminino
Sinto falta
De um cromossomo Z
XX, XY, XYZ
Acredito que Z possa ser
Uma constante cosmológica
Ainda a ser descoberta
O interior da matéria
Conspirado
Em forma de vida humana
Na empresa
Absorvo o baque
Das mudanças
Deixar de ser
O homem frente a tudo
Para ficar de lado
Sucumbo ao poder do dinheiro
Que é que decide
E fortalece personalidades
Minha atitude
Toma tons
Pasteis
Aceito a condição
De ex combatente
Ex homem de frente
Só eu sei quanto foi difícil
Equilibrar tanto peso
Suportar tantas pressões
Onde continuar
Era ter
Que suportar leviandades
Dava garantias para todos
Não as recebia
De ninguém
Por anos a fio
No fio
Da corda bamba
Quando assumi a empresa
Na época que vim
Morar em Avaré
A empresa era uma forma
De me sentir perto
De meu pai
De me afirmar
Para meus filhos
E companheira
Ninguém sabia
O tamanho da pedra
Em meu sapato
E por anos
Nunca respirei
A pulmões a pleno
Vivi dividido
Com uma pessoa
Também dividida
Me acostumei ao meio bem
Ao meio gozo
Ao meio gosto
Somente me vi inteiro
Ao amor e cuidado
Dos meus filhos
Preciso de vida
Da minha vida
A que consumi
Preciso de um bem
Que não cesse
Que não dependa de grana
Preciso de casa
Carinho
E apoio
Preciso sair
Do mausoléu
Aonde vivo
Preciso apagar
As mensagens grafitadas
Com meu sangue
Quero ter a alegria
Do encontro de amigos
Quero a leveza
Quero o sabor dos alimentos
Quero pagar o que devo
Quero o contato com a beleza
Abraço minha vida
Fracionada e ferida
Não disfarço
Contemplo as belezas
Oferecidas a 37 mil pés
Atenuam o amargo e a dor
Vejo São Thomé das Letras
Isto me traz a vontade
De me sentir diferente
Lembro de ter acampado
Bem no alto
Da vila
Lindo azul
Ao longe
É verdadeiro
O recebo como sendo
A única coisa verdadeira e boa
Que vejo
Luminosidade sem igual
Sem divisão
Sem fragmento
Sua beleza iluminada
Convida
A iluminação
De fazer emergir o adulto
Se o que me conheço
Aponta às paixões
Como ficar lúcido
Apesar
Das sombras
A dor de trazer a tona um homem
Que não use o termo “ sou humano “
Como desculpa
Chegamos
No apartamento de BH
Minha casa tem moveis brancos
Tão brancos
Como um hospital
Tem luzes no teto
Que soltam foco
Na vertical
Nas janelas semi abertas
O vento
Denuncia as cortinas
Tudo é limpo
Tudo parece
Estar em ordem
Meu corpo recém saído
Intoxicado de tantos remédios
Perscruta o tempo
As crianças como adultos
Fazem seus deveres
Os adultos fazem-se crianças
Há uma bola suja
No mármore limpo
Da sala
Jornais lidos
Sobre forram
O tapete
Existe um silencio
Que agride
O ruído da cidade
O amor esta próximo ao descontrole
Como a união da solidão
A verdade do desconhecido
Somos juntos
A fervilhante possibilidade
De ocorrer o bem
A vibrante possibilidade
Se ocorrer
A química do amor
Ao que todos
Sem exceção
Desejamos
Manha de segunda-feira
A noite trouxe
O arrefecimento
Dos animos
No encontro
Que tem superado
Pequenas desavenças
Porem
Que alimenta
As grandes
Como toda humanidade
Deixei o torpor do encontro
Anestesiar o conflito
Por um tempo
Terei a imunidade
Do grande conflito
Ganho algum tempo
Enquanto perco
A humanidade
Sangrou uma veia
Na narina esquerda
As 3 da manha
Quando voltei para cama
Descobri uma filha
No meu travesseiro
Aproveitei
Para passear pela casa
Às escuras
Refletia apenas
A penumbra
Da cidade
Eram tranqüilas
As respirações
Dos meus
Eram ritmadas
Na melodia
Da vida
Voltei para cama
E me senti
Num jardim
A vida
Que não se economiza
Esta a rondar
É o balanço
Que balança o berço
Da longa infância
Na respiração profunda
Dormi
Fundi todos os sonhos
Manha de terça
Dia de partir
Crianças fazem lição
Descobri uma grande verdade
Que esta pousada
No fundo de meu silencio
Então não me turvo
Deixo que tudo
Tome a dimensão apropriada
Assim sinto
Uma imensa jóia
Depositada em mim
Das que não são expostas
Em vitrines
Não se vende
Ela brilha no exercício
Que me lanço
Com paciência
Me sinto curando
Da engripação
De minha vida
Vi a chama da vida
Vi que podia se apagar
A vi na extensão do relacionamento
Estou curando
Relações supérfluas
Laços mal dados
Tomo assento
No ônibus
Que me leva a Confins
Fico mais longe
Do aeroporto
Que me deixa perto
Saí a pé de casa
Tomei ônibus ao lugar errado
Táxi para a estação certa
De ônibus
Belo Horizonte
Parece Madrid
Tarde maravilhosa
A bordo do vôo 1759
Um luxo de avião
A luz avermelhada
Inunda em beleza
A visão do dia
Realça a vida
Que a natureza
Confere a si mesma
Aguardo a decolagem
Enquanto dentro de mim
Já estou voando
Nas cores
Que a passada chuva
Lavou em aquarela
Pareço sair
Para um vôo internacional
Com janeiro passado
Este 737-800
É potente
Decola curto
O sol ilumina apenas
A copa das arvores
Em rosa
Voamos quase na direção
Do por do sol
Bem acima das nuvens
Sinto o conforto dos céus
Acima das nuvens
Uma visão lunar
O cheiro das poltronas de couro
Confere ao vôo
Um toque executivo
Pareço acompanhar meu pai
Juntos fomos
A tantos céus
Na viagem ao Báltico
Ele quis ir
Em aviões separados
Primeiro foi com minha mãe
Uma semana depois
Fui eu
O que não sabia
É que ele me comprara bilhete
Na primeira classe
Era tão larga a poltrona
Que não sabia direito
O que fazer com as pernas
Nos encontramos no Hotel
Em frente à estação
Em Helsinque
De lá de trem
Para Leningrado e Moscou
Era uma viagem testamento
Ali ele queria
Me dar o mundo
Eu aceitei
Como tudo
Que vinha
De suas mãos
Lembrei da viagem
Da Alemanha
Fui seu tradutor
Como tocou a Berlim dividida
Da Alexander Platz
Sovieticamente militarizada
Quantos muros
Ainda precisam
Ser demolidos
Depois uma semana
Passeando de carro
Parando em Castelos
Dormindo em conventos
Tomando vinho trochnem
Jogamos carambola
Nos despedimos em Frankfourt
Sua viagem na vida
Ficou abreviada
Mato as suas saudades
Quando sinto
O abraço das asas
Daqui de cima
Nos céus
Encontro outros céus
E com o coração
Faço a ponte
Entre nossas dimensões
Sinto a delicadeza
Que a vida faz
Comigo
Inundando-me
Com sentimentos
Profundos
Quase vejo o invisível
Penso o impensável
Escrevo o inscritível
Baixa nosso vôo
Para altitude
De transição
As turbinas engolem o ronco
E tudo que se ouve
É um leve soprar
Vamos na direção da luz
Do fim
Deste longo dia
No lusco fusco
Quase um hiato
No tempo
Nele
Toco o espaço
Entre o Céu e Terra
Hiato é
A dimensão compreendida
Entre duas gerações
A de meu pai e a minha
A minha
E dos meus filhos
Sou apenas hiato
Um traço de união
Uma duração
Meu coração anseia
Por verdades belas
E caricias verdadeiras
O pensamento busca
Se alimentar de verdades
Que extingam o dúbio
O corpo quer o fogo
Em que ardem
A irrevogabilidade da vida
O que não se cancela
O que não se corrompe
O que é singelo
Aqui em baixo
Uma cidade se prepara
Para o recolhimento da noite
Muitos voltam
Ao seu ponto
De partida
Mas à tarde
Nos faz sozinhos
Irremediavelmente sós
No interregno do dia e noite
Há a passagem que só se cruza
Sozinho
Sinto o dilatar do coração
Quantas vidas estão
Em minha vida
Me faço ponte
E sinto o fervilhar
Da emoção palpitante
Das vidas que trago
De tantos
Em mim
E de toda a vida que levo
Para tantos
Que me sucedem
Sou o foco
De onde vem a luz
De onde emana calor
Tocamos
A reversão é forte
A turbina é boa
Aqui passou a chuva
Assim também
Me sinto limpo
Barra Grande
18 de março
De 2005
Aguardo a chegada
Do caminhão de mudança
Vindo do escritório de São Paulo
O primeiro de dois
De tudo
Que virá
Muitas coisas serão sepultadas
Outras terão ainda
Uma sobre vida
Aqui na Barra Grande
Onde tantas outras coisas
Já moram em definitivo
Moramos aqui
De 94 a 98
Morei sozinho em 93
Vivi 5 anos aqui
E me pergunto realmente
Se fui feliz
Aqui foi nossa primeira casa
Aquela que nos recebeu
Foi à casa de meus pais
Como na Itália
Onde se constrói sobre as casas
Mais um andar para os filhos
Aqui construímos a historia
Sobre a historia
De meus pais
Há muito desejava morar aqui
No silencio entre o canto dos pássaros
E o vento nos eucaliptos
Sonhava em sair de São Paulo
Onde me sentia
Apenas um numero a mais
Aqui poderia dar vazão
A vida
Que represava na cidade
Aqui vim ficar apartado
Do cenário
Da primeira separação
Fiz novos amigos
E vivi messianicamente
A espera dos meus
Um ano depois chegaram
Uma carreta aportou
Trazendo a mudança
Chegamos dois dias depois
E ainda assim
Tinha terminado a descarga
Era o encontro de duas vidas
Duas historias
A chance de ser uma
Tinha muitos aspectos delicados
O financeiro
O psicológico
Aqui viríamos recomeçar
O segundo casamento
De ambos
Me contorci todo
Para agradá-la
Para propiciar o melhor
Nem sempre
Fui compreendido
Na verdade quase nunca
Minha empresa estava longe
De atender os padrões
Das expectativas dela
Seu padrão social
Sofreria alguma oxidação
Como sua prataria
Mas tudo isso
Seria recompensado
Pelo amor
E é isso
Que realmente
Questiono
Quais os verdadeiros motivos
Que estavam presentes
Naquele momento
Não os românticos
Os psicológicos
Os materiais
Aqui seu filho
Ficaria apartadamente longe
Do pai dele
Garantindo a ela
A segurança frente ao medo
Que pudesse ser roubado
Aqui teria a sinalização
De um conforto material
E um quinhão nos ativos
Aqui poderia ser a psicóloga
Que a administradora
Abafava
E depois de satisfazer estas condições
Poderia fazer uma vida comum
Comigo
Assim sinto
Enquanto foi aqui
Onde passei com Thales
A primeira noite em casa
Onde contei aos meninos
Historias divertidas
Todas as noites
Onde passeamos a cavalo
Carregando os filhos
Dentro da camisa
Onde dei asas
Ao pai amoroso
Que há muito guardara
Também foi
Muito bom me casar novamente
Torcendo para tudo dar certo
Vivemos aqui
Até nascer
A pequenina Larissa
No ano seguinte
Mudamos para a cidade
Mais perto das escolas
Muitas coisas
Estão aqui
Desde então
Meio vivas
Meio mortas
Como a mudança que espero
Sinto que este lugar
Fala algo ao meu intimo
Sempre falou
Sinto que seu silencio
Ainda é eloqüente
Para mim
As arvores crescem
Ficam imensas
Aninham as aves
Talvez possa ainda nesse lugar
Reescrever minha historia
Responder a pergunta
Viracopos
19 de março
Destino Confins
Somente construímos
Sobre as eras
Do passado
Nada se transforma verdadeiramente
Apenas algumas mudanças
Aqui e ali
Vivemos a capa
Da modernidade
Na caótica ordem das coisas
Por dentro somos os mesmo
Assemelhados
Aos nossos antepassados
Onde na Barra Grande percebi
O quanto ainda é
A casa paterna
A mais antiga
A mais receptiva
A menos valorizada
Viracopos
Manhã energética
De sábado
Amanheci novo
Na casa de Marcel
Tomei banho de sol
A varanda convidou
Ao encontro do vento
Que só há nas montanhas
Enormes pedras de granito
Arquitetam o projeto das casas
Compondo-se
As casas ocupam
O espaço vazio
Entre elas
Emprestam
A certeza monolítica
Para si próprias
Não sei se construí
Minha casa
Sobre pedras
Construí sobre meu coração
Mas parece que isso
Não foi o suficiente
Mais que o vento
Aqui encontro
Um amigo
Chegamos no aeroporto
E um abraço curto
Exprimiu um longo sentimento
Agora estou abordo
Deste avião
Esperando a decolagem
E me dou conta
O quanto de mim
Espera por isso
De corpo e alma
Anseio por decolar
Cada um dos meus
Anseio por resolver
Minha ferida mais central
E afetiva
Anseio por me colocar
A alma de todos meus
Nos Céus
Preparamos a partida
Nos arrastamos lentamente
Para a cabeceira
Começa a corrida
Que força estupenda
Já estamos no ar
Mais uma semana curta
Dois ou três dias
Parto de novo
Quanta resistência encontro
Para fazer as mudanças
Que preciso fazer
Preciso de toda inteligência
Do mundo
Para fazer valer minha vida
Preciso de uma capacidade de amar
Muito maior
Que a de superar machucados
Para isto
Me inspiro
No alto
Só o que leve
Pode voar
O que é bem resolvido
Quero o vôo da liberdade
O que faz sentido
Sem separação
Atingimos o topo do vôo
A terra fica
Irreconhecivelmente distante
Paradoxalmente sinto
Um conforto em estar
Afastado de tudo
Dentro deste avião
Entre tantas idas
E vindas
Meu corpo
É a antena
Da alma
Não sei se tenho alma individual
Ou se é uma para todos
E não entendemos
Sinto o acordar dos sentidos
Aprendo a perceber
Os sinais da vida
Não apenas nesta
Que esta identificada
Com o corpo
Mas a vida
Que esta escrita
Desde a explosão da matéria
A vida que pôde se manifestar
Há muito
Neste planeta
A vida que fez o primeiro homem
Meu pai e eu
Está em meus filhos
A vida
Que é muito alem
Que uma reação química
Ela obedece a princípios
As leis universais
A uma vontade enorme de se conhecer
E aqui estou
E sinto em mim
O comum a toda matéria
Chegamos a Confins
Agora mais 50 minutos
De passeio
De ônibus
Dentro do ônibus
O motorista sintoniza uma radio
Quer agradar a maioria
Sempre sei
Que faço parte
Do outro grupo
No churrasco
Na cervejada
Neste ônibus
Nem acredito
Que ficarei com os meus
Toda a semana
Iremos encontrar Neca
Em Valinhos
Mais dois dias de viagem
Faremos festa
Para comemorar
A Páscoa
E inundaremos em sabores
Das comidas
E do relacionamento
Segunda de manha
Acompanho Thales
Ao dentista
Diz-se no Oriente
Que nos dentes
Está escrito nosso destino
Qual destino reserva
Estes longos dentes
Deste lindo menino ?
O destino dos adultos
Que não deixarão em vão
Nenhuma fase da vida
Agora é um meninão
Sua atenção vagueia
Pelas etéreas rotas
Logo sua nave pousara
E travará contato
Com quem ele escolher
Neste instante nesta cadeira
Parece um passarinho
Que precisa ainda de alimento
Enquanto na verdade
Apenas em vê-lo
Alimento meu ser
Pela manhã me abraçou
E ainda apertado disse
Te amo muito
Foi como ver o sol
Dilatei o coração
E todo meu ser
Agora aguardo
O dente e o tempo
Que não lhe causem dor
Terça feira
Enquanto estudamos
Todos na sala
Hei
Hei você
Minha alma
Sei
Que você
Esta aí dentro
Na frente do tempo
Na possibilidade
Do eterno
Sei que é você
Pois reconheço
As pegadas
Em cima de você
Toneladas de entulho
De mim mesmo
Coisas sem sentido
Sentido sem coisa
Um pouco de tudo
Sabe aquela sensação
Que não vai dar certo
Não chega em você
Só quando respiro fundo
É que sei
Que você se alimenta
Sabe,
Venho de muitas guerras
Todas perdidas
Procuro você
Por toda parte
Até nos outros
Não consegui contato
Para além
Da pele
Durmo só
Acordo
Mais só ainda
E vejo o escorrer dos meus dias
Numa seqüência desconfortável
De viagens
Hoje mesmo
Daqui algumas horas
O dia todo
Me desloco
Mas por dentro
Não saio do lugar
Não chego à praia
Que anseio
Por um milhão de anos
O que faço para encontrar você ?
Não sei
Quisera saber
Me movo
Na falta de sinais
Apenas tateando
A bordo do 1759
BH – Campinas
17:30
Embarco neste 737 -800
Como quem entra
Num carro da família
É sempre nele
Prefixo OZ
Que venho e vou
As pontas das asas
Viradas para cima
Me fazem no século XXI
Estou encucado
Com o paradoxo
Da vida
Como que de uma explosão
Há 15 bilhões de anos
Estamos hoje onde estamos
As ferramentas da construção
De todo universo
Ainda estão por aqui
Sinto-as em mim
Confronto as teorias
No meu intimo
Sou passageiro do tempo
Meu pequeno lapso de tempo
E me debruço sobre ele
Quero saber o que de melhor
Posso fazer
Nestes anos que tenho a frente
Me aproximo a cada ano
Na idade máxima
Que atingiu meu pai
Que serve para mim
Como uma referencia
Meia masoquista
Tenho 17 anos
Até atingir
A marca do pênalti
Não sei se chutarei
Ou defenderei
Na hora do apito
Posição 2 esperar
Que pouse
Um TAM
Tomo um sol delicioso
Todas as cores ficam
Mais vivas
Decolamos
Jato puro
No ar
Me sinto impotente
Em começar
Muitas coisas
Me sinto preso
A uma teia
De limitações
Estou desintoxicando
Camadas e camadas anteriores
Homem cebola
O sol bate certeiro
Em minha vista
Encaro-o
Deixo que sua luz
Penetre até o fundo
Do cérebro
Deixo que vá
Desentupindo
E iluminando o efêmero
Tomo um porre de luz
Solto as rédeas
Me deixo levar
Vou ficar vendo
Uma bolacha vermelha
Por uma semana
Mas não paro
Deixo-me inundar
Por cada fresta
Ao longo
Do eixo
Da alma
Parece que não haverá paz
Enquanto não assumir
Irremediavelmente a mim mesmo
Preciso de espaço
Para realizar
Meu trabalho
Move em mim o desejo
De ser editado
E lido por muitos
Não sei por onde começar
Fixo os olhos no sol
Bem acima da linha das nuvens
Curioso encarar o sol das 6:00
Com a cor
Do sol de meio dia
Ainda não sei
Para onde irei
Ao chegar em Campinas
Tomo a decisão
De sair da penumbra
Colocar as coisas no lugar
Preciso curar minha alma
Da sede e fome
Que migrou do meu corpo
Quero colocar tudo
Me apostar
Nos próximos lances
Me sinto bem
Foi um bom pouso
Sigo
Acabo de receber a noticia
Da morte
De Beatriz
Senti que apenas no recolhimento
Poderia encontrar
O entendimento disto
Com Beatriz
Minha ligação
Sempre foi na veia
Lembro quando uma tarde
Me telefonou e pediu
Que assinasse seu testamento
Que periodicamente escrevia
Para amenizar a dor
Que lhe provocava esta sombra
Depois de concordar
Perguntei
Porque eu ?
Foi quando ouvi
De sua boca
“ você é meu anjo da guarda”
Comunicávamos com os olhos
Nos arriscávamos falar
O infalável
Um jogo franco
De quem sabia
Que tinha que ser rápido
Nas minhas horas difíceis
Depois de falar com ela
Ficaram mais difíceis
Não jogava panos quentes
Colocava o dedo na ferida
Não se esquivava
Não temia criticas
Sabia ouvir
Calava fundo
E depois por qualquer motivo
Se ria
Como quem não guarda nada
Uma noite
No seu aniversario
Já diagnosticada a doença
Demonstrei o que pensava
Por escrito
Para todos
Ela chorou
Eu chorei
Por dentro
Sinto um imenso orgulho
De nossa amizade
Nossa proximidade
Sinto um triste vazio
Por não tê-la acompanhado
Nestes últimos tempos
Onde
Também corro
Atrás do tempo
E que agora
Sinto que um tanto de mim
Se vai também
A amizade de muitos encontros
O silencio dos tantos outros
Que não acontecerão
Não sei de nada
Nenhum detalhe
Dos últimos fatos
Isto não faz
Importância
Nenhuma
Posso ver
Que você foi valente
Até o final
Dando conta de tudo
E sabendo
Que venceria
E venceu mesmo
Beatriz é uma vencedora
Chegou lá
Agora o encontro
É com
O eterno
Esta sua hora
Não temos como
Em tempo contar
Um segundo se passara
No seu tempo
Até que haja o grande encontro
Onde seremos todos
Partes de apenas uma alma
A alma humana
A mesma de todos os homens de bem
De toda a vida
Ao longo de todo tempo
Amanhã
Jantarei naquela mesma mesa
E brindarei a sua vitória
Penso em Kiko
Rafaela e Antonio
Meu coração fica pequeno
Agora mudam-se as posições
E eu a considero
A minha anja da guarda
A consagro como a dama
Que aponta
O essencial
O que é viver
Se não for unir
Céu e Terra
E isso se dá
Quando se saboreia
Cada momento
Sou grato
Por tudo que aprendi
Sempre a considerarei próxima
Vitoriosa Beatriz
Viva Beatriz
Voa Beatriz
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